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GramáticaNoções de Sintaxe

NOÇÕES DE SINTAXE – ROTEIRO 08: Predicativo do sujeito e do objeto direto; complemento nominal e agente da passiva.

By 3 August 2016No Comments

NOÇÕES DE SINTAXE – ROTEIRO Nº 8

1 – TEMA: Termos integrantes da oração. Predicativo do sujeito e do objeto direto; complemento nominal e agente da passiva.

2 – PRÉ-REQUISITO:
. Ler com compreensão.
. Ter concluído com êxito, o estudo dos Roteiro anteriores desta Série.
. Ter conhecimento básico das classes de palavras, estudadas na Série Noções de Morfologia

3 – META: Ao concluir o estudo deste Roteiro, o aluno deverá ser capaz de:
. identificar o predicativo do sujeito e do objeto direto
. identificar o complemento nominal
. identificar o agente da passiva
. construir orações usando corretamente os termos acima estudados.

4 – ATIVIDADES DE ESTUDO: Ler com entendimento é pré-requisito para se aprender qualquer coisa atra¬vés da leitura. Por isso, leia os textos com bastante atenção. Sem pressa. Não pule frases ou trechos, por achar que não são importantes. Quando não souber o significado de alguma palavra, consulte o dicionário. Portanto, faça o seguinte:

a) Tenha um dicionário de Português ao seu alcance, para consultá-lo sobre as palavras que você desconhece o significado;

b) Procure um lugar sossegado para ler os textos e fazer os exercícios;

c) Leia primeiro o texto; faça em seguida os exercícios; compare suas respostas com o gabarito e veja o que errou; retorne ao texto para verificar o porquê do erro.

5 – PÓS-AVALIAÇÃO: Após ter feito o estudo dos textos e os exercícios, responda às questões propostas na Auto-avaliação. Creio que você agora, acertará todas. Caso isso não aconteça, consulte as orientações dadas nas Atividades Suplementares.

6 – ATIVIDADES SUPLEMENTARES: Se você não conseguiu alcançar 80 pontos na Pós-avaliação, volte à leitura dos textos, agora com mais atenção. Sem pressa. A leitura com compreensão é a base da aprendizagem.
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ANEXO A – Predicativo do sujeito e do objeto direto

A palavra PREDICATIVO faz parte da família da palavra PREDICADO. O dicionário nos informa que:
. predicado – significa qualidade, característica, atributo
. predicativo – é a qualidade ou característica atribuída a alguém ou a alguma coisa.
Por extensão, na classificação sintática, o PREDICATIVO é a palavra ou expressão que, na frase, exerce a função de dar ou atribuir uma qualidade ao sujeito ou ao objeto (direto ou indireto). E por isso ele faz parte dos Termos Integrantes da oração.
O predicativo completa o sentido do sujeito ou do objeto atribuindo a eles uma qualidade ou característica. Em geral, essa função faz parte do predicado nominal, pois é com a presença dos verbos de ligação na oração que isso acontece. Veja o exemplo:

“Porém vós que permanecestes fiéis ao Senhor, vosso Deus, todos, hoje, estais vivos.” (Deuteronômio 4:4)

No exemplo acima temos duas orações:
1a – Porém vós (…) todos, hoje, estais vivos
2a – que (vós) permanecestes fiéis ao Senhor, vosso Deus.

Analisando a primeira oração, vamos encontrar:
Sujeito = vós todos
Predicado nominal = porém, hoje, estais vivos
Verbo de ligação = estais
Predicativo do sujeito = vivos

Nesta oração há uma afirmativa a respeito do sujeito “vós”: estais vivos. Se retirarmos o verbo da frase, ainda assim conseguimos concluir que ao sujeito “vós” é atribuído uma característica ou atributo: vivos. A palavra “vivos” está dando uma característica ou atributo ao sujeito, por isso está exercendo a função de predicativo do sujeito.

A mesma situação acontece com a 2a oração:
Sujeito oculto – (vós)
Predicado nominal – permanecestes fiéis ao Senhor, vosso Deus
Verbo de ligação – permanecestes
Predicativo do sujeito – fiéis

Ao sujeito (vós) que está implícito, é dado uma característica ou atributo: fiéis. Como essa característica se refere ao sujeito, essa palavra “fiéis” está exercendo a função de predicativo do sujeito.

Mas também o predicativo é comumente encontrado nas orações cujo predicado é classificado como verbo-nominal. Veja o exemplo:

O trem chegou atrasado.

Nesta oração, temos:
Sujeito simples – o trem
Predicado verbo-nominal – chegou atrasado
Verbo intransitivo – chegou
Predicativo do sujeito – atrasado

Neste exemplo, o predicado será verbo-nominal porque podemos desdobrar essa oração em duas:
O trem chegou e estava atrasado.

Ao desdobrarmos a oração em duas, tivemos que usar um verbo de ligação (estar). Ora, isso nos aponta para a classificação do predicado da oração original como verbo-nominal porque está implícito a presença do verbo de ligação, além do verbo intransitivo “chegar”, para entendermos a mensagem desta frase: O trem chegou (e estava) atrasado. Como a palavra “atrasado” está dando uma característica ou atributo ao trem, sua função é predicativo do sujeito.

Agora, observe a frase abaixo:
O juiz considerou o réu culpado.

Nesta oração, vemos que:
. a expressão “o juiz” é quem faz a ação do verbo, portanto é o sujeito;
. o verbo “considerou” é transitivo direto, exigindo um complemento direto, isto é, ligado a ele sem preposição;
. a expressão “o réu” é objeto direto porque está completando o sentido do verbo (considerou quem? o réu)
. sobrou a palavra “culpado” que está se referindo ao “réu”, dando-lhe uma característica ou atributo. É o que chamamos de predicativo do objeto direto.

Veja esse outro exemplo:
Chamam-lhe de ladrão e mentiroso.

Nesta oração, vemos que:
. o sujeito é indeterminado porque não sabemos dizer exatamente quem faz a ação do verbo;
. o verbo chamar, aqui, é transitivo indireto (o sentido é de dar nome a alguém de alguma coisa), portanto a palavra “lhe” exerce a função de objeto indireto;
. sobrou a expressão “ladrão e mentiroso” que se refere ao “lhe”, dando-lhe uma característica ou atributo. É o que chamamos de predicativo do objeto indireto.

Concluímos que:
O predicativo do sujeito ou do objeto (direto ou indireto) é uma característica ou atributo dado à palavra que exerce a função de sujeito ou objeto (direto ou indireto) dentro da oração.

DICA 1: Lembre-se de que o predicativo é um termo que integra o sentido da oração e portanto fará muito falta à compreensão da mensagem. Por isso não deve ser confundido com o adjunto adnominal, que será estudado posteriormente.

DICA 2: O predicativo do objeto direto só aparece quando o predicado é verbo-nominal. Sobre os tipos de predicado consulte o Roteiro de Estudo n° 04, desta série, publicado no site portugues.camerapro.com.br

Faça os exercícios a seguir para fixar o assunto estudado.

1. Nas orações abaixo, a palavra que exerce a função de predicativo está grifada. Escreva se ela está relacionada ao sujeito ou ao objeto direto.
a) As meninas viajaram contentes.
b) O menino chamou a mãe ansioso.
c) Os colegas acharam ótima a ideia.
d) A doença deixou a criança enfraquecida.
e) A comissão julgadora declarou-o vencedor.
f) O chefe considerou o funcionário incapaz.

2. Identifique, escrevendo ao lado da função dada, as expressões ou palavra que as exercem dentro da oração:
a) Imaginei esta cidade tranquila.
Predicado verbo-nominal: _________________
Verbo transitivo direto: ____________________
Objeto direto; ___________________________
Predicativo do objeto direto: ________________

b) Todos acharam falsa sua resposta.
Predicado verbo-nominal: ______________________
Verbo transitivo direto: _________________________
Objeto direto: ________________________________
Predicativo do objeto direto: _____________________

c) O sofrimento torna forte o homem.
Predicado verbo-nominal: __________________________
Verbo transitivo direto: ____________________________
Objeto direto: _________________________
Predicativo do objeto direto: ________________________

d) A notícia deixou-me feliz.
Predicado verbo-nominal: _________________________
Verbo transitivo direto: _____________________________
Objeto direto: _______________________
Predicativo do objeto direto: _____________________

e) Eu o encontrei solitário.
Predicado verbo-nominal: ___________________
Verbo transitivo direto: ______________________
Objeto direto: _____________________________
Predicativo do objeto direto: ____________________

f) Sua atitude deixou seu pai furioso.
Predicado verbo-nominal: __________________
Verbo transitivo direto: _____________________
Objeto direto: ____________________________
Predicativo do objeto direto: ________________
_________________________________________________

Respostas:
1. a) predicativo do sujeito
b) predicativo do sujeito
c) predicativo do objeto direto
d) predicativo do objeto direto
e) predicativo do objeto direto
f) predicativo do objeto direto

2. a) Imaginei esta cidade tranquila.
Predicado verbo-nominal: imaginei esta cidade tranquila
Verbo transitivo direto: imaginei
Objeto direto: esta cidade
Predicativo do objeto direto: tranquila

b) Todos acharam falsa sua resposta.
Predicado verbo-nominal: acharam falsa sua resposta
Verbo transitivo direto: acharam
Objeto direto: sua resposta
Predicativo do objeto direto: falsa

c) O sofrimento torna forte o homem.
Predicado verbo-nominal: torna forte o homem
Verbo transitivo direto: torna
Objeto direto: o homem
Predicativo do objeto direto: forte

d) A notícia deixou-me feliz.
Predicado verbo-nominal: deixou-me feliz
Verbo transitivo direto: deixou
Objeto direto: me
Predicativo do objeto direto: feliz

e) Eu o encontrei solitário.
Predicado verbo-nominal: o encontrei solitário
Verbo transitivo direto: encontrei
Objeto direto: o
Predicativo do objeto direto: solitário

f) Sua atitude deixou seu pai furioso.
Predicado verbo-nominal: deixou seu pai furioso
Verbo transitivo direto: deixou
Objeto direto: seu pai
Predicativo do objeto direto: furioso
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ANEXO B – COMPLEMENTO NOMINAL

Se até aqui você entendeu bem o assunto do Anexo A, pode continuar. Caso contrário, é bom rever as atividades em que encontrou dificuldades, antes de ler este Anexo B.
Mostramos a você, no Roteiro 07 desta Série, que muitas vezes um verbo não tem sentido integral e precisa de um complemento (objeto direto ou objeto indireto). Mas, isso não acontece somente com verbos, como você vai verificar a seguir. Observe as frases abaixo:
. Tenho esperança……
. Desejamos a realização…..
. Estou ansioso….

Você deve ter percebido que o sentido das frases não está completo, não é?

. quem tem esperança, tem esperança por/de alguma coisa
. quem deseja a realização, deseja a realização de alguma coisa
. quem está ansioso, está ansioso por alguma coisa

O sentido dessas orações não está completo porque as palavras grifadas precisam de outras que lhes completem o sentido. Precisam de um complemento. Esse complemento é conhecido como complemento nominal porque completa o sentido de um nome que vem antes dele.

Vamos fixar os conceitos apresentados.

Complete as orações escolhendo o complemento que convém a cada palavra grifada:

– por sua resposta
– em sua eleição
– a este fato
– da festa

a) Tenho esperança ______________________
b) Desejamos a realização __________________
c) Estou ansioso __________________________
d) Nada disseram relativo ___________________

Respostas:
a) em sua eleição
b) da festa
c) por sua resposta
d) a este fato

Observe que nos exemplos dados acima, a relação entre o nome e seu complemento nominal se faz através de uma preposição. As orações, agora apresentam sentido integral. Por isso, o complemento nominal faz parte dos TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO.

Concluímos que:

Complemento nominal é o termo ou expressão que completa o sentido de um nome (substantivo, ou adjetivo, ou advérbio) ligado a este por uma preposição.

DICA: o Complemento Nominal não completa o sentido do um verbo. Quem faz isso é o objeto direto e o objeto indireto e o agente da passiva.

Vamos aos exercícios de fixação.

1. Sublinhe os complementos nominais existentes nas orações abaixo:

a) Pedimos o adiamento das provas.
b) Temos confiança nos amigos.
c) Todos devem obediência às leis.
d) Este colega não é assíduo às aulas.
e) Tenho necessidade de dinheiro.
f) Esperamos seu comparecimento à reunião.
g) Ela é a dona da casa.
h) A criança tem medo de trovoada.

2. Identifique o termo a que se relaciona o complemento nominal em negrito:

a) O alimento é indispensável ao homem.
b) Suas palavras foram semelhantes às minhas.
c) Sua decisão foi favorável ao amigo.
d) O resultado dos trabalhos foi muito bom.
e) Sua capacidade para o trabalho já foi comprovada.

Respostas:
1. a) Pedimos o adiamento das provas.
b) Temos confiança nos amigos.
c) Todos devem obediência às leis.
d) Este colega não é assíduo às aulas.
e) Tenho necessidade de dinheiro.
f) Esperamos seu comparecimento à reunião.
g) Ela é a dona da casa.
h) A criança tem medo de trovoada.

2. a) O alimento é indispensável ao homem.
b) Suas palavras foram semelhantes às minhas.
c) Sua decisão foi favorável ao amigo.
d) O resultado dos trabalhos foi muito bom.
e) Sua capacidade para o trabalho já foi comprovada.

ANEXO C – O AGENTE DA PASSIVA

Assim como o objeto direto e indireto completam o sentido dos verbos transitivos, o AGENTE DA PASSIVA também exerce essa função de completar o sentido dos verbos a que ele se relaciona.
Para você entender melhor esse assunto, estude o conteúdo do Roteiro de Estudo no 6 desta Série, que trata sobre vozes do verbo. A voz do verbo que vai nos interessar aqui é a voz passiva.

No Roteiro de Estudo no 6, lemos:

VOZ PASSIVA

Observe, agora, o exemplo dado na voz passiva. Antes devemos colocar a frase na ordem direta: sua senhora foi desprezada por ela. A oração nos informa que o sujeito (sua senhora) sofreu a ação do verbo (foi desprezada) que foi executada por outro (por ela).

Voz passiva Voz ativa
1. Sua senhora foi desprezada por ela 2. Ela desprezou sua senhora
sujeito simples – sua senhora sujeito simples – ela
predicado verbal – foi desprezada por ela predicado verbal – desprezou sua senhora
núcleo do predicado – foi desprezada núcleo do predicado – desprezou
agente da passiva – por ela objeto direto – sua senhora

Observamos que, na análise feita com a frase na voz passiva, encontramos a expressão “por ela” que completa o sentido da expressão verbal “foi desprezada”. Essa expressão que completa o sentido do verbo é conhecida como AGENTE DA PASSIVA. Por quê? Porque houve uma troca de função da voz ativa para a voz passiva, isto é, quem fazia um trabalho (função) antes, agora faz outro trabalho (função) mas com o mesmo objetivo. “Ela” é sujeito simples na voz ativa, mas passou a ser agente da passiva na voz passiva.
É como se, numa escola, um professor que dava aulas, passasse a ser diretor dessa escola. Mudou de função, mas com o mesmo objetivo: educar. Assim é com essa situação da oração em Língua Portuguesa. Mudou a função, mas continua o mesmo objetivo: comunicar uma mensagem.
No exemplo dado, o que é indicado como complemento verbal, é chamado de agente da passiva porque é ele quem executa a ação do verbo quando a oração se apresenta na voz passiva.

Exercícios de fixação.

Identifique a expressão que exerce a função de Agente da passiva, nas frases abaixo:
1. A lição foi explicada pelo professor.
2. O hino é cantado pelos alunos.
3. A empregada foi despedida por ela.
4. A valsa foi tocada pelo pianista.
5. A cidade será destruída pelos inimigos.
6. A lavoura foi prejudicada pelos insetos.
7. Esta casa será alugada por meus amigos.
8. Seu livro foi lido por todos os alunos.
9. Esta ordem foi dada pelo diretor.
10. A colega era conhecida por todos.

Respostas:

1. pelo professor.
2. pelos alunos.
3. por ela.
4. pelo pianista.
5. pelos inimigos.
6. pelos insetos.
7. por meus amigos.
8. por todos os alunos.
9. pelo diretor.
10. por todos.

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AUTO-AVALIAÇÃO

Assinale a única opção correta nas questões a seguir.

1. Na frase: “O leite será bebido pelo neném”, a expressão em negrito exerce a função sintática de:
a. ( ) sujeito
b. ( ) objeto direto
c. ( ) complemento nominal
d. ( ) agente da passiva
e. ( ) adjunto adverbial

2. Na frase: “Tinha confiança no amigo”, a expressão em negrito exerce a função sintática de:
a. ( ) objeto direto
b. ( ) predicativo
c. ( ) agente da passiva
d. ( ) adjunto adverbial
e. ( ) complemento nominal

3. Assinale a frase cuja expressão em negrito exerce a função sintática de predicativo do sujeito:
a. ( ) O trem partiu carregado.
b. ( ) Isto não depende de mim.
c. ( ) O urso afugentou os visitantes.
d. ( ) A vida é um dom divino.
e. ( ) Carlos deixou-a magoada.

4. Assinale a única frase que NÃO APRESENTA complemento nominal:
a. ( ) Estava pronto para o passeio
b. ( ) Anseio por tua presença.
c. ( ) A gaveta está cheia de formiga.
d. ( ) Terminou a construção da casa.
e. ( ) O amor à pátria era a sua maior característica.

5. Assinale a única frase com agente da passiva:
a. ( ) O motorista está cansado.
b. ( ) Lutemos por dias melhores.
c. ( ) Eles vieram de Belo Horizonte.
d. ( ) Tudo foi feito por Manoel.
e. ( ) Tenho dor de cabeça.

6. Na frase: “Foi-lhe oferecida uma participação nos lucros” a expressão em negrito exerce a função sintática de:
a. ( ) predicativo
b. ( ) complemento nominal
c. ( ) objeto indireto
d. ( ) objeto direto
e. ( ) adjunto adverbial

7. Assinale a única oração que apresenta predicativo do objeto:
a. ( ) Elegeram-no presidente.
b. ( ) Marília é esforçada.
c. ( ) Nós o admiramos muito.
d. ( ) Trabalharemos com entusiasmo.
e. ( ) Ninguém saiu satisfeito.

Gabarito
Questão – Resposta – Valor
1. D 10 pts
2. E 10 pts
3. A 10 pts
4. B 20 pts
5. D 20 pts
6. B 10 pts
7. A 20 pts

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LEITURA SUPLEMENTAR

AO VIVO, DO BRASIL

O Brasil está recomeçando, nos dá a entender certo discurso oficial, ainda vacilante em seus primeiros passos e tropeços iniciais. Mas, como o Brasil começou? Começou com padres e letrados. Frei Henrique de Coimbra rezou a primeira missa, cantada e solene. O escrivão Pero Vaz de Caminha segurou ali o tchan pela primeira vez. Afinal, tinham desembarcado na Bahia. A função do intelectual naquela sociedade era servir ao rei. A do frei também. Todos irmanados junto ao único soberano europeu que era chefe militar, religioso, político e econômico do seu reino, mandando em tudo. Ao contrário dos monarcas de outros países, decorativos, que reinavam sem governar, o rei português reinava e governava, como notou Raymundo Faoro no clássico “Os Donos do Poder”.
Como não degustar a profusão de detalhes, eufemismos e volteios com que nosso primeiro escritor descreve a nossa terra e nossa gente? “É a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos, de ponta a ponta é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa”. É provável, que naqueles albores da língua que viria ser também a do Brasil, estando o português mais próximo do espanhol, Caminha tenha pronunciado duas vezes tchan e não chã nas três linhas de sua Carta, lida pelo autor diante de Pedro Álvares Cabral, de Frei Henrique de Coimbra e de Gaspar de Lemos, encarregado de levá-la ao rei. Os pintores Paula Rego, Victor Meirelles, Benedito Calisto, Cândido Portinari e Aurélio de Figueiredo integraram, por assim dizer, séculos depois, a equipe designada pelo povo brasileiro para fazer a cobertura de imagens, pois seus quadros falam e se movem como fotos e teipes, tanto tempo depois e para sempre.
A História se faz com atos, fatos, versões e nomes, mas também com silêncios e apagamentos. Caminha morreu no caminho, na mesma viagem, assassinado na África. Frei Henrique de Coimbra tornou-se bispo de Ceuta, além de confessor do rei, dois postos de grande influência. Ah, por que escrevo? Há outras magias. Eram sete os outros frades dominicanos que acompanhavam o superior que rezou a primeira missa. Esquecemos seus nomes, mas houve quem os registrasse na História Seráfica: “seus companheiros eram os seguintes: Frei Gaspar, Frei Francisco da Cruz, Frei Simão de Guimarães e Frei Luís Salvador, todos os quatro pregadores e excelentes letrados; Frei Masseu, sacerdote, organista e músico, que também com estas prendas podia ter parte na conversão das almas, havendo experiência certa de que o Demônio também se afugenta com as suavidades das harmonias; Frei Pedro Neto, corista de ordens sacras; e Frei João da Vitória, frade leigo e do número daqueles idiotas em cuja boca imprime o Senhor dos humildes o que hão-se responder na presença dos tiranos”. Um reino tão pequeno, padres altamente qualificados. Navegantes experimentados. Militares adestrados. Padres que rezavam pelo regimento. Escrivães sábios, sagazes, dominando a língua portuguesa com mestria, levando-a às fronteiras de seus poderes de expressão.
“Começar de novo / vai valer a pena”, cantou Simone nos tempos que anunciavam mais um de nossos célebres recomeços. Mas está começando de novo desde Pedro Álvares Cabral? Nesse novo recomeço, o nome dos letrados já é Legião. Como se chamam os escritores? Eles tem deveres semelhantes ao do primeiro que aqui aportou. Narrar ou descrever, narrar e descrever, contar o caso como o caso vem sendo há tanto tempo. E para quê? Para, pelo menos, fazer a memória brotar e assim incendiarmos as brasas da maior paixão do mundo, a do conhecimento. Ainda que pese sobre nós a ameaça bíblica para quem ousa comer o fruto da árvore perigosa: “no dia em que dela comerdes, morrerás”. É verdade, a vida é breve para tanto por escrever e ler.

(Deonísio da Silva, A Língua Nossa de Cada Dia. Osasco, SP, Novo Século Editora, 2007)

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