ROTEIRO N° 27
1 – TEMA: Noções de Morfologia. Conjunção coordenativa. Emprego.
2 – PRÉ-REQUISITO:
- Ler com compreensão.
3 – META: Ao final do estudo, você deverá ser capaz de:
- interpretar textos
- identificar e classificar as conjunções coordenativas
- entender o uso da conjunção e sua importância nas frases
4 – PRÉ-AVALIAÇÃO: O objetivo da pré-avaliação é diagnosticar o quanto se tem conhecimento de um assunto. Para isso, basta que você responda à Auto-avaliação que está no final deste Roteiro, antes de ler qualquer texto existente nele. Se você alcançar um resultado igual ou superior a 80 pontos, não precisa estudar o assunto, pois você já o domina suficientemente. Caso contrário, vá direto para as Atividades de Estudo.
5 – ATIVIDADES DE ESTUDO: Ler com entendimento é pré-requisito para se aprender qualquer coisa através da leitura. Por isso, leia o texto do anexo A para treinar sua interpretação. Embora a leitura dos anexos em si seja também interpretação de texto, ela é voltada para uma finalidade mais específica que é a aprendizagem dos conceitos gramaticais. O texto do Anexo A é mais genérico e serve de treinamento para a compreensão geral da língua. Portanto, faça o seguinte:
a) Tenha um dicionário de Português ao seu alcance, para consultá-lo sobre as palavras que você desconhece o significado;
b) Procure um lugar sossegado para ler os textos e fazer os exercícios;
c) Leia primeiro o texto; faça em seguida os exercícios; compare suas respostas com o gabarito e veja o que errou; retorne ao texto para verificar o porquê do erro.
6 – PÓS-AVALIAÇÃO: Após ter feito o estudo dos textos e os exercícios, responda às questões propostas na Auto-avaliação. Creio que você agora, acertará todas. Caso isso não aconteça, consulte as orientações dadas nas Atividades Suplementares.
7 – ATIVIDADES SUPLEMENTARES: Se você não conseguiu alcançar 80 pontos na Pós-avaliação, volte à leitura dos textos, agora com mais atenção. Sem pressa. A leitura com compreensão é a base da aprendizagem.
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ANEXO A – INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
A PISCINA
Era uma esplêndida residência, na Lagoa Rodrigo de Freitas, cercada de jardins e tendo ao lado uma bela piscina. Pena que a favela, com seus barracos grotescos se alastrando pela encosta do morro, comprometesse tanto a paisagem.
Diariamente desfilavam diante do portão aquelas mulheres silenciosas e magras, lata d’água na cabeça. De vez em quando surgia sobre a grade a carinha de uma criança, olhos grandes e atentos, espiando o jardim. Outras vezes eram as próprias mulheres que se detinham e ficavam olhando.
Naquela manhã de sábado ele tomava seu gim-tônica no terraço, e a mulher um banho de sol, estirada, de maiô à beira da piscina, quando perceberam que alguém os observava pelo portão entreaberto.
Era um ser encardido, cujos mulambos em forma de saia não bastavam para defini-la como mulher. Segurava uma lata na mão, e estava parada, à espreita, silenciosa como um bicho. Por um instante as duas mu-lheres se olharam, separadas pela piscina.
De súbito, pareceu à dona da casa que a estranha criatura se esgueirava, portão adentro, sem tirar os olhos dela. Ergueu-se um pouco, apoiando-se no cotovelo e viu com terror que ela se aproximava lentamente: já transpusera o gramado, atingia a piscina, agachava-se junto à borda de azulejo, sempre a olhá-la, em desafio e agora colhia água com a lata. Depois, sem uma palavra iniciou uma cautelosa retirada, meio de lado, equilibrando a lata na cabeça – e em pouco sumia-se pelo portão.
Lá no terraço, o marido, fascinado, assistiu a toda a cena. Não durou mais de um ou dois minutos, mas lhe pareceu sinistra como os instantes tensos de silêncio e de paz que antecedem um combate.
Não teve dúvida: na semana seguinte vendeu a casa.
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Vocabulário
Gim-tônica: bebida que consiste na mistura de gim, aguardente feita de cereais, com água tônica e limão.
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I – Nas questões 1 a 7, marque a alternativa que é sinônimo da palavra ou expressão em negrito:
1. “Era um ser encardido…”
a. ( ) encarnado b. ( ) feio c. ( ) velho d. ( ) sujo
2. “… estava parada, à espreita, silenciosa como um bicho.”
a. ( ) esperando b. ( ) observando c. ( ) rindo d. ( ) pensando
3. “… já transpusera o gramado…”
a. ( ) ganhara b. ( ) desviara c. ( ) ultrapassara d. ( ) contornara
4. “… sempre a olhá-la, em desafio…”
a. ( ) desconfiada b. ( ) temerosa c. ( ) indiferente d. ( ) provocante
5. “… iniciou uma cautelosa retirada…”
a. ( ) rápida b. ( ) prudente c. ( ) temerosa d. ( ) vagarosa
6. “Lá no terraço, o marido, fascinado, assistiu a toda a cena.”
a. ( ) deslumbrado b. ( ) temeroso c. ( ) entusiasmado d. ( ) furioso
7. “Não teve dúvida: na semana seguinte vendeu a casa.”
a. ( ) duplicidade b. ( ) vacilação c. ( ) determinação d. ( ) convicção
II – Marque a alternativa correta de acordo com o texto.
8. No 1º parágrafo podemos perceber que a esplêndida residência situava-se:
a. ( ) num lugar desabitado
b. ( ) próximo à encosta de um morro onde se alastrava uma favela
c. ( ) num bairro onde só havia residências luxuosas.
d. ( ) dentro da favela
9. No início do 2º parágrafo temos: “Diariamente desfilavam diante do portão aquelas mulheres silenciosas e magras, lata d’água na cabeça.” Disto podemos concluir que:
a. ( ) as mulheres vendiam água.
b. ( ) as mulheres gostavam de desfilar com latas na cabeça
c. ( ) na favela não havia água
d. ( ) não havia água encanada na cidade
10. Ao ver a mulher da favela entrar em seu jardim, a dona da casa ficou:
a. ( ) indiferente b. ( ) furiosa c. ( ) aterrorizada d. ( ) alegre
11. Por que casa foi vendida?
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Gabarito
1. d 2. B 3. C 4. D 5. B 6. A 7. B 8. B 9. C 10. C
11. A casa foi vendida porque o incidente fez com que seus donos passassem a temer os ha-bitantes da favela. Aquela pequena e rápida invasão poderia significar o início de uma série de invasões maiores.
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ANEXO B – CONJUNÇÃO
No Roteiro 26, estudamos sobre as preposições. Vimos que sua função principal é unir palavras, relacionando-as entre si.
Neste Roteiro vamos estudar uma classe de palavras que também tem a função de unir, relacionar. Só que o âmbito de influência dessas palavras é muito maior: sua função é unir frases ou períodos. São as conjunções.
O conhecimento sobre as conjunções é muito importante para o estudo da SINTAXE, pois são elas que unem as orações dando-lhes sentido de dependência (subordinadas) ou independência (coordenadas).
Concluímos que:
Conjunção – é a palavra invariável que liga orações, relacionando-as entre si e acrescentando-lhes significados.
Veja os exemplos:
- Caiu e levantou-se.
- Ora cai, ora levanta-se.
No 1° exemplo, temos duas ideias (ou ações): cair / levantar. São ideias opostas mas, por causa da conjunção “e” podemos inferir que:
- quem caiu, não continuou no chão, pois levantou-se em seguida
E quem relaciona as ideias entre os verbos é a conjunção “e”. A ideia ou mensagem é de adição, agrupamento de ações.
Já no 2° exemplo, são os mesmos verbos (cair – levantar) porém a ideia aqui apresentada é de contraste, oposição, alternância: ou uma coisa ou outra. Vemos então que as conjunções não apenas unem orações, mas também alteram-lhes o sentido.
Como dissemos, linhas atrás, as conjunções unem orações dando-lhes sentido de dependência ou independência. Veja o exemplo:
A dona da casa viu a estranha e ficou aterrorizada.
Temos aqui duas afirmativas:
- a dona da casa viu a estranha
- a dona da casa ficou aterrorizada
Essas duas afirmativas (ou orações) são independentes de sentido e a única palavra que as une é: e. É uma conjunção que coordena as ideias contidas em cada uma das orações.
Agora, observe as afirmativas abaixo:
1a. afirmativa = ninguém acreditou
2a. afirmativa = ele disse isso.
Essas duas afirmativas podem ser independentes entre si ou não, dependendo da conjunção que for usada. Veja:
- Ele disse isso e ninguém ouviu.
- Ninguém ouviu o que ele disse.
Veja que na 1a. composição, a conjunção “e” dá ideia de adição, agrupamento, coordenação. O sentido da primeira não altera o sentido da segunda oração ou vice-versa.
Na 2a. composição existe uma mudança de ideias introduzidas pela conjunção “que”: a ação de ouvir subordina a ideia daquilo que foi dito. Veja que as duas orações, nesse caso, precisam uma da outra para completarem o sentido da mensagem e quem faz essa ponte é a conjunção “que”. Quem ouve, ouve alguma coisa, não é mesmo?
No primeiro caso, temos uma conjunção coordenativa aditiva: e.
No segundo caso, temos uma conjunção subordinativa substantiva: que.
É importante sabermos diferenciar as conjunções coordenativas das subordinativas porque elas tem papel importante no estudo da Sintaxe.
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ANEXO C – AS CONJUNÇÕES COORDENATIVAS
Vimos no Anexo B que:
Conjunção coordenativa – é aquela que estabelece o processo de coordenação das ideias entre as orações independentes (ou coordenadas).
As conjunções coordenativas recebem um nome específico de acordo com o sentido que lhe é peculiar. São chamadas de:
1. Aditivas – e, nem. (nem = e não)
As orações unidas por essa conjunção são marcadas por uma relação de adição ou exclusão.
Ex.: Chorou e riu. Não chorou, nem riu.
2. Adversativas – mas, porém, contudo, todavia, entretanto, apesar de.
Essas conjunções ligam orações independentes, acrescentando-lhes a ideia de contraste.
Ex.: Concordou com o pedido, entretanto impôs algumas regras.
3. Alternativas – ou…ou; ora…ora; nem…nem; já…já; quer…quer;
Ligam duas orações de sentido distinto, indicando alternância das ideias contidas nas frases. Em geral, aparecem repetidas.
Ex.: Quer chova, quer faça sol, ele sempre aparece na praça.
Na guerra, ou se mata ou se morre.
4. Conclusivas – logo, portanto, por isso, pois, por conseguinte, assim.
Ligam orações que exprimem conclusão ou consequência, relacionada a sua antecedente.
Ex.: Penso, logo existo.
5. Explicativas – pois, porque, porquanto.
Ligam orações exprimindo uma explicação relacionada à ideia que a antecede.
Ex.: Eu acredito em você porque você é leal.
Observação:
É preciso estar atento à ideia contida nas frases para não confundir conclusão com explicação.
No exemplo “Penso, logo existo.” a mensagem que transparece é: eu concluo que a minha existência é real em função de que eu penso. Se eu não pensasse, logo que não poderia existir. Como eu penso, concluo que existo.
Já no exemplo “eu acredito em você porque você é leal”, a mensagem é: estou explicando a minha crença em você, há um motivo porque eu acredito em você = porque você é leal.
Se tentássemos substituir o “porque” por “logo” a mensagem seria totalmente alterada e ficaria sem nexo. Veja:
Eu acredito em você, logo você é leal.
O emprego da conjunção conclusiva (logo) não cabe aqui, porque a ideia fica totalmente absurda. A lealdade de alguém não é o resultado ou consequência da crença de outros.
Portanto, esteja atento à mensagem que você quer transmitir para empregar a conjunção correta.
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Exercícios:
1. Utilize as conjunções abaixo para preencher as lacunas das frases, da maneira mais adequada:
Mas, porém, portanto, ora, nem, e, logo, pois, quer |
- Ele estudou muito, _____________ será aprovado.
- Os pássaros aproximaram-se do viveiro __________retiraram as migalhas de pão.
- Saíremos de casa, quer chova ______ não chova.
- A maré ora sobe, ________ desce.
- Ele não trabalha __________ estuda.
- Ontem, eu ia ao cinema, _________ choveu muito, ________ não pude sair.
2. Una as orações, empregando conjunções coordenativas, de modo que a mensagem tenha significado coerente.
- Chove. Faz sol.
- As meninas gostam de bonecas. Os meninos gostam de bola.
- Você é estudioso. Alcançarás todos os objetivos da prova.
- Não desanimes. Terás outra oportunidade.
3. As orações abaixo estão ligadas por uma conjunção coordenativa. Classifique as conjunções de acordo com os tipos estudados neste Roteiro:
a. Ora trabalha, ora estuda.
b. Estudas muito, portanto vencerás.
c. Compre o livro e estude.
d. As meninas brincam com bonecas e os meninos jogam bola.
e. Estudei muito, porém não consegui aprovação.
f. Não fiques triste, pois terás outra oportunidade.
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GABARITO
Questão 1.
a. portanto b. e c. quer d. ora e. nem f. porém, logo
Questão 2.
- Ou chove ou faz sol. Ora chove ora faz sol.
- As meninas gostam de bonecas e os meninos gostam de bola.
- Você é estudioso, logo alcançarás todos os objetivos da prova.
- Não desanimes, pois terás outra oportunidade.
Questão 3.
- conjunção coordenativa alternativa
- conjunção coordenativa conclusiva
- conjunção coordenativa aditiva
- conjunção coordenativa aditiva
- conjunção coordenativa adversativa
- conjunção coordenativa explicativa
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AUTO-AVALIAÇÃO
1. Classifique as conjunções em destaque nas orações abaixo:
- Muitos se esforçam, mas poucos conseguem seus objetivos.
- O amor constrói e o ódio destrói.
- Vale a pena os estudos, pois nos trazem benefícios.
- Jairo se canditará a deputado ou tentará a presidência.
- Não digas mentiras, pois a mentira tem pernas curtas.
- Não poluas a terra, porque você precisa dela.
- A garota tem boa vontade, portanto será bem sucedida.
2. Relacione as orações em destaque às ideias que expressam:
1. adição, soma
2. Oposição, contraste
3. Alternância
4. explicação
5. conclusão
a. ( ) Estudou muito, mas não conseguiu aprovação.
b. ( ) Ora brigam, ora estão de bem.
c. ( ) Espere, pois haverá outras oportunidades.
d. ( ) Todo homem é mortal; Pedro é homem, logo Pedro é mortal.
e. ( ) Foi embora e nem disse adeus.
f. ( ) Leio muito, pois quero instruir-me.
g. ( ) Estiveste lá, logo ouviste a notícia.
h. ( ) Às vezes há mundos num grão de areia e nada num coração humano.
i. ( ) Ou lutas contra a corrente ou serás levado por ela.
j. ( ) Esforçamo-nos muito, porém não conseguimos um bom resultado.
k. ( ) Patrícia é irrequieta, todavia tem bom coração.
l. ( ) Não grite, porque aqui ninguém é surdo.
m. ( ) Tratei-o bem; portanto, ele reclama sem razão.
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Gabarito
Atribua 05 pontos para cada resposta correta. Considere-se apto se alcançar o total de 80 pontos.
Questão 1.
- coordenativa adversativa
- coordenativa aditiva
- coordenativa explicativa
- coordenativa alternativa
- coordenativa explivativa
- coordenativa explicativa
- coordenativa conclusiva
Questão 2.
a.( 2 ) b.( 3 ) c.( 4 ) d.( 5 ) e.( 1 ) f.( 4 ) g.( 5 ) h.( 1 ) i.( 3 ) j. ( 2 ) k.( 2 ) l.( 4 ) m.( 5 )
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LEITURA REFLEXIVA
ODORICO PARAGUAÇU NOS TRIBUNAIS
Quem escreve, seja o que for, não sendo literatura, deve guiar-se pelo lema de Churchill: “das palavras, as mais simples. Das mais simples, a menor.”
Escrevo de Belo Horizonte, onde estou para, a convite do Tribunal de Justiça, falar, em sua sede, sobre o português de promotores, advogados e juízes. No auditório lotado, há também três desembargadores, todos bem-humorados, aprovando com o rosto e o menear de cabeça o que vou dizendo.
“Quem são o desembargadores?”, pergunto às anfitriãs. O fotógrafo me chama para perto de sua camera e vai identificando um por um. “Ele podia também mostrar os gordos que dava no mesmo”, diz a jornalista encarregada de me entrevistar antes da conferência. Mas o trânsito do aeroporto de Confins à cidade estava um pouco engarrafado por causa das obras e cheguei em cima da hora. Deixamos a entrevistar para depois.
O convite deve-se a De onde vêm as palavras, minha participação no programa Controle Remoto, dirigido por Dermeval Netto e apresentado semanalmente na TV Estácio, em que comentei o tal juridiquês. Um juiz viu o programa e me indicou como conferencista.
O juridiquês está com os dias contados. Ninguém mais aguenta tanta empolação. A própria presidente do STF, a ministra gaúcha Ellen Gracie, endossa a campanha contra esse tipo de linguagem. Quem, entretanto, de-flagrou o combate no Brasil meridional foi o juiz Ricardo Roesler que, no início de carreira, em 1988, escreveu em despacho ou sentença: “O réu seja encaminhado ao ergástulo público”.
O delegado, formado em Direito e novo no cargo, recebeu a ordem e passou a procurer um ergástulo na pequena cidade. Perguntava a todo mundo onde ficavam o ergástulo. Ninguém sabia. Dois dias depois a lei ainda não tinha sido cumprida. Ninguém encontrara o ergástulo público.
O juiz soube do ocorrido e explicou que ergástulo era cadeia. “Mas por que ele não disse antes?”, perguntou um dos policiais, acrescentando: “Todo mundo onde fica a cadeia, mas ninguém sabe onde fica o ergástulo, que, agora sabermos, é a mesma coisa, com nome arrevesado.”
Dezessete anos depois, o mesmo juiz é presidente da Associação de Magistrados Brasileiros em Santa Catarina e lidera a campanha contra o juridiquês.
Eis alguns exemplos. O Supremo Tribunal Federal raramente é designado assim pelos advogados. Excelso Sodalício, Pretório Excelso, Egrégio Pretório e até um esquisito Alcândor Conselho. E sabem o que é originalmente ancândora, de onde veio ancândor? Poleiro! Os árabes chamam poleiro de ave de rapina, em geral em lugares muito altos, de ancândora. No intuito de elevar o STF nas invocações, advogados metidos a besta, sem saber, esculhambam a mais alta corte do país.
Vocês sabem o que é exórdio, preâmbulo, proêmio, peça vestibular? A simples e prosaica petição inicial de todo processo. E cônjuge supérstite, sabem? Se o marido morre – os maridos em geral morrem primeiro, viram? – você pode dizer da mulher que ela ficou, não para titia, mas consorte sobrevivente ou cônjuge supérstite. Pois é assim que muitos advogados denominam a viúva ou o viúvo: cônjuge supérstite!
E para terminar, só mais está. A polícia prendeu o assassino do empresário Nelson Schincariol. Isso foi em 2005. Os advogados foram ao Tribunal de Justiça, que manteve a prisão. Mas o despacho foi tão ambíguo que o assassino foi solto: a ordem judicial não foi entendida nem pelo juiz local!
Quem escreve – colunas, sentenças, despachos, seja o que for, não sendo literatura – deve guiar-se pelo lema de Winston Churchill: “Das palavras, as mais simples. Das mais simples, a menor”.
Seria de um divertido horror, o juridiquês, não nos desse tantos prejuízos, a começar por afastar o povo do Judiciário, onde o cidadão brasileiro pode buscar remedies indispensáveis, a começar pelos antídotos que a Justiça vem dando contra o veneno da Injustiça.
(DEONÍSIO DA SILVA, A Língua Nossa de Cada Dia, Novo Século Editora, Osasco, SP, 1a. Edição, 2007)
Muito Bom***
Ótima explicação! Me ajudou muito.