LIÇÕES DE PORTUGUÊS
ROTEIRO DE ESTUDOS 3
1 – TEMA: Som e Fonema. Classificação dos fonemas. O Alfabeto. Letras. Escrita fonética e alfabética.
2 – PRÉ-REQUISITO: a. Ler compreensivamente.
b. Ter noções de Fonética e Fonologia e da constituição e funcionamento do aparelho fonador.
3 – META: As atividades deste roteiro foram organizadas com o objetivo de oferecer condições de aprendizagem sobre a articulação dos diferentes sons utilizados na língua portuguesa e sua importância para a comunicação oral e escrita.
4 – PRÉ-AVALIAÇÃO: Se você já estudou alguma coisa a respeito do assunto de que trata este roteiro, você pode verificar o que realmente sabe, respondendo à Auto-Avaliação. Ela é o termômetro que vai medir a profundidade do seu conhecimento quanto ao assunto desta lição. Se você obtiver um mínimo de 80 pontos, parabéns! Você não precisa estudar esta lição. Caso contrário, aconselho-o que leia com bastante atenção os textos dos Anexos, procurando entender as explicações dadas, referentes às questões que não respondeu corretamente.
5 – ATIVIDADES DE ESTUDO: Ler com entendimento é pré-requisito para se aprender qualquer coisa através da leitura. Portanto, faça o seguinte:
- Tenha um dicionário de Português à mão para consultá-lo sobre as palavras que você desconhece o significado;
- Leia sem pressa. Procure um lugar sossegado para ler os textos e fazer os exercícios. Lembre-se: a pressa é inimiga da perfeição!
- Leia primeiro os textos; faça os exercícios logo em seguida; compare suas respostas com o gabarito; veja o que você errou e retorne ao texto para verificar o porquê do erro.
6 – PÓS-AVALIAÇÃO: Após ter feito a leitura compreensiva dos textos e feitos os exercícios, responda às questões da avaliação propostas na Auto-Avaliação. Creio que você agora acertará todas. Caso isso não aconteça, consulte as orientações dadas nas Atividades Suplementares.
7 – ATIVIDADE SUPLEMENTAR: Se você não conseguiu alcançar 80 pontos na Pós-Avaliação, não desanime. Volte à leitura dos textos. Sem pressa. Leia também o texto da Leitura Suplementar. Tenha ao seu lado um dicionário para consultar algumas palavras que você não conhece. A leitura com entendimento é a base da aprendizagem.
ANEXO A – SOM E FONEMA
Vimos no Roteiro de Estudo 2 que nem todo som emitido pela voz humana é utilizado para compor palavras, isto é, “nem todos os sons que pronunciamos em português tem o mesmo valor no funcionamento de nossa língua.” Nas palavras:
reis/ réis avô/avó lã/lá
a diversidade de timbre da vogal é suficiente para estabelecer uma diferença entre elas. Veja agora outros exemplos:
vá – má – dá – já – fá – pá – cá
temos sete palavras que se diferenciam apenas pela consoante.
Concluímos que existem sons capazes de estabelecer diferenças entre duas palavras. Para esses sons damos o nome de FONEMA. São, pois, fonemas os sons vocálicos e consonantais que diferenciam as palavras acima. Agora, observe as palavras:
lupa/pula lapu/palu
Temos apenas os fonemas /l/, /u/, /p/, /a/. A localização de cada um deles é que identifica a palavra. Nos dois primeiros sabemos o que significa, mas nos dois últimos, não sabemos, isto é, não possuem significado.
Concluímos que o agrupamento dos sons também tem uma função identificadora.
É a função identificadora do fonema que permite reduzir os sons a um número limitado, para uso dentro de uma língua. É também por causa dessa função identificadora que podemos conhecer as famílias das palavras, sua origem, sua morfologia, etc.
VOCABULÁRIO
Timbre – abertura, altura e intensidade de um som
Morfologia – estudo da estrutura e formação das palavras
EXERCÍCIOS
Coloque V ou F, conforme sejam verdadeiras ou falsas as afirmações:
a. ( ) Todos os sons produzidos em português são usados no funcionamento da língua.
b. ( ) O som aberto ou fechado de uma vogal, em português é fator de diferença entre as palavras.
c. ( ) Fonema são sons capazes de estabelecer diferenças entre duas palavras.
d. ( ) A localização de um fonema dentro da palavra não interfere no seu significado.
e. ( ) A seqüência dos fonemas nas palavras também é fator de interferência no seu significado.
f. ( ) Os sons das vogais e das consoantes e o agrupamento desses fonemas exercem função identificadora nas palavras, em português.
GABARITO:
a. ( F ) b. ( V ) c. ( V ) d. ( F ) e. ( V ) f. ( V )
ANEXO B – CLASSIFICAÇÃO DOS FONEMAS
Todas as línguas possuem vogais e consoantes. Mas, o que é vogal? O que é consoante?
Vamos recordar ligeiramente o que vimos no Roteiro de Estudo 2.
Vimos como é que funciona o aparelho fonador. Vimos que as cordas vocais podem estar mais abertas ou mais fechadas quando da passagem da corrente de ar que vem dos pulmões, o que as faz vibrar ou não vibrar. Vimos também que esta corrente de ar, quando chega à faringe, pode sair livremente pela boca ou pelo nariz. Quando a corrente de ar vibra as cordas vocais e sai livremente pela boca ou pelo nariz, temos aí um som vocálico.
Para você descobrir se está emitindo um som vocálico basta colocar sua mão no pescoço, à altura da garganta. Diga pausadamente: a, e, i, o, u. Se você sentir vibrações, saiba que o som produzido é de uma vogal. Observe também que você precisa deixar sua boca aberta para que a corrente de ar saia livremente: o som produzido é de uma VOGAL ORAL. Isto acontece porque o véu palatino está impedindo que a corrente de ar saia pelo nariz.
Agora diga: ã, ˜e, ĩ, õ, ũ. Coloque sua mão na garganta. Você sentiu a vibração? Pois bem, isto é também um som vocálico. Só que desta vez parte da corrente de ar está saindo pelo nariz, porque o véu palatino está impedindo que parte dela saia pela boca. Este som é chamado de VOGAL NASAL.
E como se reconhece que um fonema é uma consoante?
Experimente pronunciar os sons dessas letras: p, t, q. (apenas o som, sem juntar nenhuma vogal). Coloque sua mão na garganta. Sentiu alguma vibração das cordas vocais? Não? Pois bem, é porque as cordas vocais estão mais abertas ou relaxadas. Quando isso acontece, a corrente de ar vai direto para a boca. Aí, vai encontrar os lábios, os dentes e a língua que impedem que a corrente de ar saia livremente. O som, então, é produzido nessa caixa de ressonância (cavidade bucal) e é chamado de consonantal. Este som também pode ser produzido nas fossas nasais.
Portanto:
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Classificação dos fonemas:
Orais: /a/, /e/, /ê/, /i/, /o/, /ô/, /u/
Vogais
nasais: /ã/, /˜e/, /ĩ/, /õ/, /˜u/
orais: /b/, /s/, /d/, /f/, /g/, /j/, /l/, /p/, /k/, /r/, /t/, /v/, /x/, /z/
Consoantes
nasais = /m/, /n/
Você deve ter notado que o “h” não figura nem entre as vogais e nem entre as consoantes. É que, sozinho, ele não representa nenhum fonema. O seu valor só existe junto do “n” e do “l” (nh – lh).
Também você deve ter notado que as formas C e Q não aparecem entre barras. Isto se deve ao fato de que estamos ainda tratando da representação fonética dos sons em português. Alguns sons possuem mais de uma representação gráfica na escrita das palavras.
Ex: casa = /kaza/ queijo /kêiju/
Veja que é o mesmo som /k/ mas com escrita diferente.
EXERCÍCIOS
1. Circule as palavras que tenham o fonema indicado:
a) consoante nasal: pulga – cinema – salsa – nuca – amor
b) vogal oral: sim – cem – sabão – assim – rico
c) vogal nasal: onda – rua – canto – mulher – surda
2. Identifique, circulando, as palavras que sejam formadas somente por consoantes e vogais orais:
cinema – dica – tarde – chuva – mamãe – sala – canjica – dado – sabão – cará – sela – pelo – multa – grito – lua – careca – mato – frio – atlas – vila – pulo – suco – ajuda zero – medo – dia – grave – vela – bola – pia – luva – marca – pato – belo – grande – mundo – mudo – caro
GABARITO:
1. a) cinema, nuca, amor b) sabão, assim, rico c) onda, canto
2. dica, tarde, chuva, sala, dado, cará, sela, pelo, grito, lua, careca, frio, atlas, vila, pulo, suco, ajuda, zero, dia, grave, vela, bola, pia, luva, pato, belo, caro
ANEXO C – O ALFABETO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Você sabe como surgiram as palavras entre os homens? Observe a figura abaixo.
É a reprodução de figura pré-histórica, encontrada em uma caverna. Nela está reproduzida uma cena da vida diária de caçadores da Idade da Pedra. Os homens passaram a gravar, nas pedras, os desenhos que, não só significavam as cenas do dia-a-dia, como também transmitiam a comunicação de suas idéias. Assim, o desenho do sol significava o tempo de realizar uma tarefa, o desenho de peixes simbolizava uma pescaria, e assim por diante. Esse foi o caminho encontrado para que os elementos da voz humana passassem a ser representados através de sinais especiais: as letras do alfabeto, também conhecidas como grafemas. |
Provavelmente, assim nasceram as palavras escritas. Você já sabe que as letras são sinais gráficos que empregamos para escrever as palavras. O conjunto das letras denomina-se ALFABETO. O alfabeto da língua portuguesa possui 26 letras:
a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, v, w, y, x, z.
As letras k, w, y só se empregam em palavras derivadas de outras estrangeiras, em abreviaturas ou símbolos.
Ex.: Wagner; watt (unidade de medida de energia); km (quilômetro); Y (símbolo de incógnita, numa equação)
Resumindo:
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Obs.: As letras k, w, y passaram a fazer parte do nosso alfabeto pelo acordo ortográfico entre os países que falam a língua portuguesa, que passou a vigorar a partir de jan/2009.
EXERCÍCIOS
Coloque V ou F conforme seja verdadeira ou falsa a afirmação:
a. ( ) As palavras escritas surgiram pela necessidade do homem em registrar suas idéias.
b. ( ) Grafema e letra são a mesma coisa.
c. ( ) Alfabeto é o conjunto de grafemas de uma língua.
d. ( ) O alfabeto da língua portuguesa possui 23 grafemas.
e. ( ) As letras k, w, y são usadas, no português, em palavras de origem estrangeira, abreviatura ou símbolos.
GABARITO: a. ( V ) b. ( V ) c. ( V ) d. ( V ) e. ( V )
ANEXO D – LETRAS. ESCRITA FONÉTICA E ALFABÉTICA.
Em português um fonema pode ser representado por:
- uma só letra. Ex: mala = [m], [a], [l], [a]
2. duas letras. Ex: assa = [asa] do verbo assar carro = [kahu]
ss = [s] rr = [h]
3. letras diferentes. Ex: asa = [aza] zelo = [zelu] jejum = [žež˜u] gigante = [žigãti]
s = [z] z = [z] j = [ g = [ž]
Por isso é que em uma palavra pode haver:
- tantas letras quantos forem os fonemas. Ex: saber [s], [a], [b], [e], [h]
5 letras 5 fonemas
2. mais letras e menos fonemas. Ex: socorro [s], [o], [k], [o],[h], [u]
7 letras 6 fonemas
3. menos letras e mais fonemas. Ex: fixo [f], [i], [k], [s], [u]
4 letras 5 fonemas
Esta é uma das dificuldades da nossa língua quanto a sua representação gráfica. Isto se deve a vários fatores. Entre eles, citamos:
. a origem das palavras (grego ou latim);
. as alterações que os fonemas sofreram desde a sua origem até aos nossos dias.
Um exemplo disso é a palavra lago. Em latim: lacus [lakus]. Com o passar do tempo o [k] passou a ser [g]. Daí, lago. Em vista disso, os estudiosos e pesquisadores das línguas (lingüistas) definiram uma convenção (símbolo) única que pudesse simbolizar, na escrita, a pronúncia real de um fonema, de modo que qualquer pessoa possa relacionar o símbolo ao som e desse modo, articulá-los (pronunciá-los), mesmo que não saiba o significado da palavra ou não conheça a língua. É o que chamamos de ALFABETO FONÉTICO.
Quando se usa esses sinais numa transcrição fonética, os mesmos aparecem entre colchetes [ ], indicando assim a pronúncia real da palavra.
Temos, entretanto, que observar que estes sinais não podem substituir a escrita oficial das palavras de uma língua, porque como cada falante tem sua maneira própria de falar, não seria possível substituir o alfabeto como o conhecemos pelo alfabeto fonético e ensiná-lo nas escolas.
Por exemplo, o falar das pessoas que moram na região Norte do Brasil é diferente do falar das pessoas da região Sul, ou do Nordeste ou do Centro Oeste.
A seguir, apresentamos o alfabeto fonético utilizado para transcrever os sons do português.
VOGAIS ORAIS
SÍMBOLO | ESCRITA | ||
Ortográfico | Fonético | ortográfica | fonética |
A a | [a] | pá | [pa] |
E e | [ε] | pé | [pε] |
E e | [e] | ipê | [i’pe] |
I i | [i] | vi | [vi] |
O o | [⊃] | avó | [a’vÉ] |
O o | [o] | avô | [a’vo] |
U u | [u] | uva | [‘uva] |
Obs: Usamos o símbolo ( ‘ ) para indicar a silaba forte (tônica) da palavra.
VOGAIS NASAIS
SÍMBOLO | ESCRITA | ||
Ortográfico | Fonético | ortográfica | Fonética |
ã/am/an | [ã] | Pão
Campo canto |
[pãu] [‘kãpu] [‘kãtu] |
em/en | [~e] | empada
dente |
[~e’pada] [‘d~eti] |
im/in | [~i] | sim
pinto |
[s~i] [‘p~itu] |
õ/om/on | [õ] | põe
pompom ponto |
[põi] [põ’põ] [‘põtu] |
um/un | [~u] | atum
mundo |
[a’t~u] [‘m~udu] |
Em português, temos 12 vogais, sendo que 7 são orais e 5 são nasais. A representação gráfica (grafema) é que varia, já dissemos linhas atrás, por causa da origem da palavra ou evolução da escrita e/ou do som.
EXERCÍCIOS
A. Preencha as lacunas com as vogais do alfabeto fonético que representam o fonema usado (o sinal ( ‘ ) indica a sílaba tônica):
1. pisa [‘p__z__]
2. forma [‘f__hm__]
3. da [d__]
4. colo [‘k__l__]
5. reza [‘h__z__]
6. galo [‘g__l__]
7. capaz [k__’p__s]
8. tango [‘t___g__]
9. sede [‘s__d__]
10. medo [‘m__d__]
11. soja [‘s__ž__]
12. vela [‘v__l__]
B. Agora faça o contrário do exercício anterior. Preencha com as vogais do alfabeto ortográfico:
1. [‘medu] m__d__
2. [‘baha] b__rr__
3. [ka’pus] c__p__z
4. [‘soku] s__c__
5. [ ‘sistu] c__st__
6. [‘osu] __ss__
7. [‘isu] __ss__
8. [‘sustu] s__st__
9. [‘dedu] d__d__
10. [‘dadu] d__d__
11. [‘mitu] m__t__
12. [‘s⊃ku] s__c__
GABARITO
A) 1. [‘piza] 2. [‘f⊃hma] 3. [da] 4. [‘k⊃lu] 5. [‘h εza] 6. [‘galu] 7. [ka’pas 8. [‘tãgo]
9. [‘sedi] ou [‘s εdi] (a 1ª, estar com sede, a 2ª, lugar principal) 10. [‘medu] 11. [‘s⊃ ža] 12. [‘v εla]
B) 1. modo 2. barra 3. capuz 4. soco (substantivo) 5. cisto 6. osso 7. isso 8. susto 9. dedo
10. dado 11. mito 12. soco (verbo socar)
CONSOANTES
SÍMBOLOS | ESCRITA | ||
ortográfico | Fonético | ortográfica | Fonética |
b | [b] | bebê | [be’be] |
ç/c/s/ss | [s] | aço
cedo seda passo |
[‘asu] [‘sedu] [‘seda] [‘pasu] |
d | [d] | dado | [‘dadu] |
f | [f] | faca | [‘faka] |
g | [g] | galo
guerra |
[‘galu] [gεha] |
j/g | [ž] | já
jia gelo |
[ža] [žia] [‘želu] |
l | [l] | lado | [‘ladu] |
lh | [λ] | malha | [‘maλa] |
m | [m] | miado | [mi’adu] |
n | [n] | novato | [no’vatu] |
nh | [ワ] | banho | [‘bãワu] |
p | [p] | papo | [‘papu] |
c/q | [k] | calo
quilo |
[‘kalu] [‘kilu] |
r | [r] | caro
quero |
[‘karu] [‘kεru] |
r/rr | [h] | raro
carro |
[‘haru] [‘kahu] |
t | [t] | tapete | [ta’peti] |
v | [v] | vela | [‘vεla] |
ch/x | [∫] | chave
xícara |
[‘∫avi] [‘∫ikara] |
x/s/z | [z] | exército
asa zelo |
[e’zεhsitu] [‘aza] [‘zelu] |
Os sons consonantais são 19. Alguns deles são representados por mais de uma letra, como você pode observar na tabela acima.
Esses são os sinais básicos para se transcrever a fala em português do Brasil. Existem sinais que se agregam a esses para representar os idioletos, isto é, a fala específica de cada indivíduo. Um exemplo clássico de idioleto é a pronúncia do “d” por um paraibano e por um nortista. Para se representar então esta particularidade usa-se [d] para o nordestino e [dž] para a fala nortista. Ex: dito, dia. Isto acontece por causa da maneira e lugar (estamos falando do aparelho fonador) onde esses sons são articulados. Entretanto não cabe aqui o estudo dessas particularidades. Caso alguém queira conhecer mais sobre isso deve fazer um curso de Lingüística ou ingressar num curso superior de Licenciatura em Letras.
Alfabetizar alguém é um trabalho que requer conhecimentos básicos de Fonética e Lingüística. O ensino do nosso código escrito, nas escolas brasileiras passou por várias reformas. Até a década de 1960 não havia ainda métodos de alfabetização baseados nos fonemas. As crianças aprendiam decorando o que se costuma chamar de famílias silábicas, que se constituem das sílabas formadas pelas consoantes+vogais (ba, be, bi, bo, bu).
Por isso, Luiz Gonzaga, famoso compositor e cantor nordestino escreveu a música “ABC do Sertão”, quando começaram a aparecer os primeiros métodos de alfabetização baseados nos fonemas da nossa língua.
Aprecie e cante.
ABC DO SERTÃO
Lá no meu sertão
Pros caboclo lê
Tem que aprender
Outro ABC
O jota é ji, o ele é lê
O esse é si
Mas o erre tem nome de rê
Até o ípsilon lá é pissilone
O eme é mê
O éfe é fê
O gê chama-se guê
Na escola é engraçado
Ouvir-se tanto ê
A, bê, ce, dê,
fê, guê, lê, mê
nê, pê, quê, rê
tê, vê, e zê.
AUTO-AVALIAÇÃO
1. As palavras solitário e solidário distinguem-se por um único elemento.
a) Qual é esse elemento? __________________ b) Como é chamado?__________
2. Substitua o fonema em destaque por outro, formando novas palavras:
a) rio ___________ b) lar _______________________ c) bola _____________________
3. Assinale a palavra que possui:
a) mais letras e menos fonemas: caneta – chave – mesa – casa
b) mais fonemas e menos letras: campo – menino – lua – táxi
c) o mesmo número de fonemas e letras: herói – ilha – fixo – tórax – cabelo
4. Preencha as lacunas com o símbolo do alfabeto fonético, das vogais que faltam:
a) suco [‘s__k__]
b) gole [‘g__l__]
c) quilo [‘k__l__]
d) suja [‘s__ž__]
e) vala [‘v__l__]
f) pesa [‘p__z__]
g) rosa [‘h__z__]
h) dor [d__h]
5. Preencha as lacunas com o símbolo do alfabeto ortográfico, das vogais que faltam:
a) [‘metu] m__t__
b) [‘pεsa] p__ç__
c) [‘sεha] s__rr__
d) [‘suha] s__rr__
e) [‘sapu] s__p__
f) [‘pozi] p__s__
g) [‘pכsi] p__s__
h) [‘tupã] t__p__
6. Escreva a forma ortográfica das palavras escritas em alfabeto fonético:
a) [fõ.’nε.ti.ka] ______________
b) [˜e.žẽ.’ŋכ.ka] _____________
c) [ka.’he.ta] ___________________
d) [sis.’tεh.na] ________________
e) [‘pra.sa] ____________________
f) [‘k ⊃.sε.gas] _______________
g) [žε.’la.du] __________________
h) [ka.dεh.nu] ________________
i) [es.’k⊃.la] __________________
7. Coloque F ou V conforme seja Falsa ou verdadeira a afirmativa:
a. ( ) Fonema é a menor unidade sonora capaz de estabelecer diferença entre as palavras de uma língua.
b. ( ) Todos os sons produzidos pela voz humana podem ser usados no funcionamento de uma língua.
c. ( ) O som aberto ou fechado de uma vogal, em português é fator de diferença entre as palavras.
d. ( ) Os sons vocálicos, em português, são 5 e os consonantais são 18.
e. ( ) A seqüência dos fonemas nas palavras é fator de interferência no seu significado.
f. ( ) Os sons das vogais e das consoantes e o agrupamento desse fonemas exercem função identificadora nas palavras.
g. ( ) O homem, primeiro se expressou por meio de sons, depois é que passou a registrar suas mensagens através de
sinais gráficos.
h. ( ) São 31 os fonemas usados em português, e representados por 26 letras.
i. ( ) Grafemas ou letras são símbolos usados para representar, na escrita, os sons de uma língua.
j. ( ) Chama-se idioleto as variações da fala de cada indivíduo.
l. ( ) Os fonemas, em português, podem ser orais e nasais.
GABARITO: Faça sua auto-correção, atribuindo 1,66 pts para cada acerto. Se obtiver 80, pode seguir para o próximo roteiro.
Questão 1: a. [t] [d] b. fonema
Questão 2: a) cio, fio, mio, pio, tio b) bar, dar, mar, par c) bala, bela, bula
Questão 3: a) chave b) táxi c) cabelo
Questão 4: a) [suku] b) [gכli] c) [kilu] d) [suza] e) [vala] f) [pεza] g) [hכza] h) [doh]
Questão 5: a) meto b) peça c) serra d) surra e) sapo f) pose g) posse h) tupã
Questão 6: a) fonética b) engenhoca c) carreta d) cisterna e) praça f) cócegas
g) gelado h) caderno i) escola
Questão 7: a.(V) b.(F) c.(V) d.(F) e.(V) f.(V) g.(V) h.(V) i. (V) j.(V) l.(V)
LEITURA SUPLEMENTAR
SETE POVOS E UMA LÍNGUA
(Eduardo Szklarz, Estado de Minas, 11/04/1999, pág. 6)
APROVADO PELO CONGRESSO NACIONAL HÁ QUATRO ANOS, O ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA AGUARDA RATIFICAÇÃO E DESPERTA POLÊMICA
O trema deixa de existir, “idéia” perde o acento e “lêem” vira “leem”. Essas são algumas das mudanças trazidas pelo novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que pretende unificar a escrita nos três continentes em que ela é oficial – África, América e Europa. Aprovado pelo Congresso Nacional em 18 de abril de 1995, o acordo entra em vigor assim que for ratificado por todos os demais membros da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe.
“Somos a única língua escrita de modo diferente nos países que a adotam. Isso é um absurdo”, justifica Francisco de Mello Franco, diretor do instituto que leva o nome do grande idealizador das mudanças: o filólogo Antônio Houaiss, morto no início de março. Para alguns, é chegada a hora de roçar a língua na língua de Luís de Camões, como queria Caetano Veloso; para outros, o acordo ortográfico não passa de uma imposição sem sentido, já que a língua é um organismo vivo e não pode ficar engessada por regras comuns de nações diferentes.
Comparado com o Brasil, Portugal vai sentir mais as mudanças. Aqui, por exemplo, consoantes mudas como “c” de “accessível” já não existem há vários anos, e outras alterações previstas no acordo já aconteceram por mero desuso. Fonte inesgotável de dúvidas, a aplicação do hífen continuará sendo um bicho-de-sete-cabeças: há uma infinidade de casos numa lista que ocupa sete páginas do documento. Que venham as “micro-ondas” e os “antirreligiosos”! As múltiplas formas para o som de “s” também prosseguem com toda a solenidade, já que o documento não suprime “sc”, “ss” e outras formas que produzem exageros como “exceção”.
O acordo ortográfico é fruto de uma longa discussão entre a Academia Brasileira de Letras e a Academia de Ciências de Portugal. Assinado em Lisboa em 16 de dezembro de 1990, ele deveria entrar em vigor em 1º de janeiro de 1994 – mas o prazo estourou porque ainda dependia da aprovação de alguns países signatários. Ano passado (1998), a CPLP aprovou o Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico, que adiou sua implantação por tempo indeterminado – até a ratificação geral -, e convocou os membros para a elaboração de um vocabulário ortográfico comum. Enquanto não são postas em prática, as alterações recebem a análise de professores, estudiosos e escritores.
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ANTAGONISTA DECLARADO
Doutor em Letras pela USP e professor da Universidade Federal de São Carlos, Deonísio da Silva não vê com bons olhos o acordo ortográfico. “Como escritor e professor de Letras, acho que essa é mais uma reforma sem critério”, ele avalia. “Vemos uma submissão à padronização que a informática está querendo, e o acordo ortográfico não deveria se guiar por ela. Precisamos de estudos muito mais amplos, em vez de apenas análises feitas em gabinetes por pessoas nem sempre qualificadas.”
O professor diz que as diferenças apontadas pelo acordo, como a anulação do trema, são de pequena importância. “Mesmo assim, se o tirarmos, vamos ter que ler ‘tranquilo’ [trãkilu] e ‘frequente’ [freke~ti]”, afirma. Para Deonísio, o Brasil perde muito com essa ortografia equivocada porque o aluno que não escreve o léxico corretamente se atrapalha mais ainda na sintaxe.
Deonísio da Silva acredita que outras mudanças seriam mais relevantes. “Por motivos não científicos, o português grafou inúmeras formas para o mesmo som de ‘s’. Entre elas ‘ss’, ‘ç’, ‘x’, ‘sc’, e ‘z’. Isso, sim, deveria ser padronizado: o som de ‘s’ seria escrito só com ‘s’. ‘Nariz’ seria escrito com ‘s’, e assim por diante.” Para o professor, o critério da grafia gera dificuldades porque o português ainda está preso à língua-mãe, o latim. “Por uma fidelidade quase canina à etimologia, grafamos o mesmo som de modos diferentes”, assinala.
O professor lembra que a língua portuguesa está para completar seu primeiro milênio de existência – em 1098 já havia um texto autônomo no idioma – e chegou a hora de alcançar sua autonomia. “No século XVI foi feita a primeira gramática, muito à luz da latina. Ou seja, até então vivemos muito bem falando a língua. Quando fizemos a gramática, não tínhamos o conhecimento que hoje temos para simplificá-la.”
Ele defende uma língua que se aproxime da fala, como o alemão – “que é quase artificial”. No século XIV, a Corte de Praga decidiu que o latim não correspondia mais à língua dos germânicos e sistematizou o seu uso. “Os alemães escrevem tudo o que pronunciam e vice-versa. Meu nome, Deonísio, deveria ser grafado com ‘z’. Vamos parar com isso: o aluno pergunta por que ‘casa’ é escrita com ‘s’, e o professor responde que ‘s’ entre vogais tem som de ‘z’. Mas o que dizer de ‘trânsito’?”
Para Deonísio da Silva, as línguas de Brasil, Portugal e Guiné-Bissau não são as mesmas. “A boceta aqui virou algo terrível, mas em Portugal ela continua a ser uma caixinha. Vemos os escritores brasileiros do século XIX dizendo que abriram a boceta e cheiraram o rapé”, argumenta. “Acho que não escrevo na língua de José Saramago. Há muitas palavras diferentes. Entendo um português na mesma proporção que entendo um uruguaio.”
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BIBLIOGRAFIA
CUNHA, Celso Ferreira da –Gramática da Língua Portuguesa
SILVA, Thaís Cristófaro – Fonética e Fonologia do Português, Editora
Contexto
GONZAGA, Luis – ABC do Sertão, www.cifras.art.br
ALBERGARIA, Lino de/FERNANDES, Márcia/ESPESCHIT, Rita – Português na
Ponta da Língua, 8ª. série, Editora Dimensão, Belo Horizonte, 2000
Agradeço sinceramente as informações e explicações claras, que obtive com vcs ! Sucesso
Bem, é muito bom e legal, porque a gente percebe que tem palavras que a gente fala mas escreve errado. Foi bom para mim!!! Eu gostei muito mesmo:
ss = [s] rr = [h]
3. letras diferentes. Ex: asa = [aza] zelo = [zelu] jejum = [žež˜u] gigante = [žigãti]
s = [z] z = [z] j = [ g = [ž]
Foi muito surpreendedor para mim. rsrsrsrsrsrs…
Conteúdo muito bom, obrigado e parabéns!
Cara, esse assunto é muito bom!
Muito bom! Mas tem como botar tudo em uma tabela.
Ótimo, de fácil compreensão e bem elaborado. Parabéns!
As letras que possuem correspondente no alfabeto latino , geralmente recebem tambem fonema equivalente ao da mesma letra em algum idioma que as usa. Algumas delas aparecem tambem ligeiramente modificadas. Quando isso ocorre, correspondem a um som similar ao da letra-base. Por exemplo, todas as consoantes retroflexas tem o mesmo simbolo que as consoantes alveolares equivalentes, exceto por adicionarem um “gancho” no canto inferior esquerdo da letra.