5. A FAMÍLIA DE MINHA MÃE
Minha mãe tinha um irmão chamado Júlio e mais três irmãs: Honorina (a irmã mais velha), Irinéia e Ovídia. Eram, ao todo, cinco irmãos. Todos moravam no mesmo lugar de onde minha mãe saiu: às margens do Rio Curari Grande, no município de Careiro/AM.
Tio Júlio vivia de plantar mandioca e milho, criava galinhas e porcos. Pescava para a sobrevivência da família. Havia ficado viúvo e casara-se novamente com uma mulher de nome Inês. Do primeiro casamento ficara com quatro filhos ainda pequenos: Darcy (o mais velho), Raimunda, Raimundo e Waldemarina. Do segundo casamento teve dois filhos: Maria das Graças e um menino do que não lembro o nome. Quando conheci minha prima Raimunda, ela usava muletas, pois fora acometida pela poliomielite, que atingira uma de suas pernas e ficara aleijada. Mas era uma mocinha alegre.
Tia Honorina era a irmã mais velha e por ser uma figura idosa, eu e meus primos a chamávamos de Vovó Honorina. Mas esse costume também teve sua origem: meu avô materno ficara viúvo quando mamãe tinha três anos. Apesar de ter se casado novamente, foi sua filha mais velha, Honorina, que ajudou a madrasta a cuidar dos irmãos, principalmente de minha mãe, sua irmã mais nova. Quando meu avô materno morreu, minha mãe tinha dezessete anos e a viúva resolveu voltar para a casa de seu pai, uma vez que não tivera nenhum filho com meu avô. Novamente foi Vovó Honorina quem assumiu as rédeas da vida de minha mãe.
Não conheci pessoalmente minha tia Ovídia, mas na foto que vi, era muito bonita e parecida com minha mãe. Creio que a imagem era real, pois ainda não haviam inventado esse programa de computador que altera a imagem para melhor ou para pior. A foto feita na década de 1940 e devia retratar a imagem real de minha tia. Ao perguntar sobre o seu paradeiro, fui informada que ela havia viajado para o Ceará com uma família para quem trabalhava como empregada doméstica e nunca mais dera notícias.
Esse era o destino da maioria das moças pobres que vinham do interior para a capital a procura de trabalho: ser empregada doméstica. E não foi diferente para minha mãe e suas irmãs Irinéia e Ovídia. Vovó Honorina havia casado, tido um filho e ficara morando no mesmo lugar onde sempre vivera a família. O nome do seu filho era Benedito. Era alto, moreno e forte. Quando comecei a ter contato com a família de minha mãe, Tia Honorina já era viúva.