28. NOVAS PERSPECTIVAS DE VIDA
Voltei a trabalhar em 1969 como professora de História na Escola Monteiro Lobato. À época, não havia processo seletivo por causa da grande carência de professores habilitados, em Boa Vista. O que havia era a indicação por parte dos administradores da educação, que permitia que o indicado fosse exercer a função. A única escola pública que oferecia o curso ginasial (equivalente hoje de 6o até o 9o ano do Ensino Fundamental) era o Monteiro Lobato. A secretária da escola chamava-se Irene, o diretor era o Prof. Severino Cavalcante e faziam parte do corpo docente: Marinalva, Diva Bríglia, Maria Luiza Campos, Heitor Bríglia, Valverde Araújo, Maria Helena Veronesi, Doutora Odete, Diva Alves de Lima, Sílvio Félix, Sebastião Corrêa, Francisco Macedo, Jaceguai Reis Cunha, Janete Cruz, Antonio Carlos Natalino, Jaber Xaud, Rubeldimar Azevedo e muitos outros dos quais não recordo os nomes.
O pagamento do trabalho era baseado num valor definido para cada hora-aula (50 minutos) que fora executada. Caso eu faltasse ao trabalho, essa hora-aula não seria paga. Nada mais justo. O controle era feito através de um livro de pontos, onde deixávamos nossa assinatura diariamente para comprovar nossa presença ao trabalho. Não havia carteira assinada, pois éramos “professores horistas”, como eram conhecidos os professores que atuavam nessas condições.
Eu estava feliz, pois o mercado de trabalho em Boa Vista, praticamente só existia em função do Governo do Território e conseguir um trabalho, na época, mesmo que nessas condições, era o mesmo que ganhar na loteria. Principalmente para mim.
Em 1970, passei a lecionar Português, dividindo esse trabalho com a Profa. Diva Bríglia. O número de turmas havia aumentado e me foi dado esse desafio. Na verdade, sempre gostei dessa matéria e passei a estudá-la muito, para obter mais conhecimento e segurança para transmiti-la aos alunos.
Ainda morávamos na casa que nos tinha sido cedida por Lourdes e que ficava à uma quadra da Escola Monteiro Lobato. Isso facilitava a minha vida, pois não tinha que andar muito para chegar ao trabalho.
Minha vida familiar continuava sem maiores dificuldades. O que eu ganhava como professora chegava a ser bem mais que o salário de Roberto no Banco do Brasil, com uma diferença: ele era funcionário efetivo e eu, não. Caso eu fosse considerada improdutiva, poderia ser dispensada. E por isso, eu me empenhava para ser uma boa professora. Mas, também, não só por isso. Eu gostava e gosto da minha profissão. Mas os tempos mudaram e hoje vejo que a profissão e os profissionais não são valorizados. A começar pelo desrespeito que o professor sofre dentro da sala de aula, feito por alunos. Paralelo a isso, os bons profissionais migraram para outras atividades ou profissões. Conheço muitos professores que foram para a área do Direito. Fizeram outra faculdade e abandonaram a docência. Os que continuam, o fazem por não ter condições de fazer outra atividade por falta de outros conhecimentos ou porque se acomodaram à situação existente, entre os quais eu me encontro.
O fato é que o ensino nas escolas, neste início do século XXI, está cada vez mais decaindo na sua qualidade. Aluno, hoje, não pode ficar reprovado. Quando isso acontece, culpa-se o professor “que não soube ensinar”. E quando o aluno não quer aprender? É culpa do professor?
Por outro lado, muitos professores têm se conduzido de forma tão imprópria que o respeito que lhe deveria ser dado, não pode ser dado. Os alunos, os pais, os colegas e a administração não os respeitam. E a opinião negativa se estende a qualquer profissional da área. Os poucos bons profissionais não são reconhecidos em virtude dos muitos maus profissionais existentes. Será que é por isso que a qualidade do ensino em nosso país caiu tanto?