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GramáticaNoções de Morfologia.

Tema 11: Noções de Morfologia. Classes das palavras variáveis e invariáveis.

By 19 January 201016 Comments

LIÇÕES DE PORTUGUÊS   –   ROTEIRO Nº 11

1 – TEMA: Noções de Morfologia. Classe de palavras variáveis e invariáveis: substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção, interjeição. Relação entre as classes básicas, dependentes, de ligação e independentes.

2 – PRÉ-REQUISITO: Ler compreensivamente

3 – META: As atividades deste Roteiro foram organizadas com o objetivo de oferecer condições de compreensão sobre as características das palavras usadas na Língua Portuguesa.

4 – ATIVIDADES DE ESTUDO: Ler com entendimento é fundamental para se aprender qualquer coisa através da leitura. Por isso, leia o texto do ANEXO A, para treinar sua interpretação. Embora a leitura dos anexos, em si, seja também interpretação de texto, ela é mais voltada para uma finalidade mais específica, que é a aprendizagem dos conceitos gramaticais. O texto do ANEXO A é mais genérico e serve de treinamento para a compreensão geral da língua. Portanto, faça o seguinte:

a) Tenha um dicionário de Português ao seu alcance, para consultá-lo sobre as palavras que você desconhece o significado.

b) Procure um lugar sossegado para ler os textos e fazer os exercícios. Leitura é uma atividade que necessita de concentração e ambiente adequado, sem barulho.

c) Leia primeiro o texto; faça, em seguida, os exercícios; compare suas respostas com o gabarito; veja o que errou e retorne ao texto para verificar o porquê do erro.

5 – ATIVIDADES SUPLEMENTARES: Se você não atingiu os padrões exigidos neste Roteiro, refaça a leitura e os exercícios até ter certeza de não haver mais dúvidas.

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ANEXO A – Interpretação de texto

O texto abaixo é de Millôr Fernandes, escritor que se distingue por tratar de maneira quase sempre humorística, de assuntos os mais variáveis; sociedade, política, família, o cotidiano…

O texto apresentado é uma espécie de fábula que, ao contrário das tradicionais, tem como personagem principal um ser humano e em que a moral não pode ser tomada rigorosamente como um ensinamento, uma vez que não envolve, como no caso das fábulas tradicionais, erros ou defeitos graves dos seres humanos.

NO DIA EM QUE O GATO FALOU             (Millôr Fernandes)

01.          Era uma vez uma dama gentil e senil que tinha um gato siamês. Gato de raça, de bom-tom, de filiação, de ânimo cristão. Lindo gato, gato terno, amigo, pertencente a uma classe quase extinta de antigos deuses egípcios. Este gato só faltava falar. Manso e inteligente, seu olhar era humano. Mas falar não falava. E sua dona, triste, todo dia passava uma ou duas horas, repetindo sílabas e palavras para ele na esperança de que um dia aquela inteligência que via em seu olhar explodisse em sons compreensivos e claros. Mas nada!

02.           A dama gentil e senil era, naturalmente, incapaz de compreender o fenômeno. Tanto mais que ali mesmo à sua frente, preso a um poleiro de ferro, estava um outro ser, também animal, inferior até ao gato, pois era somente uma pobre ave, mas que falava! Falava mesmo, muito mais do que devia. Um papagaio, que falava pelas tripas do Judas. Curiosa natureza, pensava a mulher, que fazia um gato quase humano, sem fala, e um papagaio cretino mas parlapatão. E quanto mais meditava mais tempo gastava com o gato no colo, tentando métodos, repetindo silabas, redobrando cuidados para ver se conseguia que seu miado virasse fala.

03.          Exatamente no dia 16 de maio de 1958 foi que teve a ideia genial. Quando a ideia iluminou seu cérebro, veio acompanhada da critica,  auto-crítica: “Mas, como não me ocorreu isso antes?” O papagaio viu no brilho do olhar da dona o seu (dele) terrível destino e tentou escapar, mas estava preso. Foi morto, depenado e cozinhado em menos de uma hora. Pois o raciocínio da mulher era lógico e científico: se desse ao gato o papagaio como alimentação, não era evidente que o gato começaria a falar? Era? Não era? Veria. O gato, a princípio, não quis comer o companheiro. Temendo ver fracassado o seu experimento científico, a dama gentil e senil procurou forçá-lo. Não conseguindo que o gato comesse o papagaio, bateu-lhe mesmo – horror! – pela primeira vez. Mas o gato se recusou. Duas horas depois, porém, vencido pela fome, aproximou-se do prato e engoliu o papagaio todo. Imediatamente subiu-lhe uma ânsia do estômago, ele olhou para a dona e, enquanto esta chorava de alegria, começou a gritar (num tom meio currupaco, meio miau-miau-miau, mas perfeitamente compreensível):

04.          – Madame, foge pelo amor de Deus! Foge, madame, que o prédio vai cair!

05.          A mulher, tremendo de emoção e alegria, chorando e rindo, pôs-se a gritar por sua vez.

06.          – Vejam, vejam, meu gatinho fala! Milagre! Fala o meu gatinho!

07.         Mas o gato, fugindo ao seu abraço, saltou para a janela e gritou de novo: – Foge, madame, que o prédio vai cair! Madame, foge! – e pulou para a rua.

08.          Nesse momento, com um estrondo monstruoso, o prédio inteiro veio abaixo, sepultando a dama gentil e senil em meio aos seus escombros.

09.          O gato, escondido melancolicamente num terreno baldio, ficou vendo o tumulto diante do desastre e comentou apenas, com um gato mais pobre que passava: – Veja só que cretina. Passou a vida inteira para fazer eu falar e no momento em que falei, não me prestou a mínima atenção.

10.          MORAL: O mal do artista é não acreditar na própria criação.

Marque com um X o sinônimo das palavras ou expressões em destaque:

1. Em: ”… gato de raça, de bom-tom…” (par. 1), a expressão em destaque refere-se à pessoa que é:

a.(   ) rica         b.(   ) bondosa       c.(   ) fina          d.(   ) natural

2. A  frase: “Este gato só faltava falar” (par. 1) tem o mesmo significado que:

a.(   ) Este gato, quando fica só, tenta falar.

b.(   ) Falar é só o que falta a este gato.

c.(   ) Só este gato é que falta falar.

d.(   ) Só este gato é que tenta falar.

3. Em: “Manso e inteligente, seu olhar era humano” (par. 1), a palavra em destaque significa:

a.(   ) próprio do homem

b.(   ) bondoso

c.(   ) submisso

d.(   ) que ama os seus semelhantes

4. Em: “Curiosa natureza, pensava a mulher…” (par. 2) a palavra em destaque tem o mesmo significado que em:

a.(   ) Vive arranjando confusões de toda a natureza.

b.(   ) Ele contemplava a natureza com olhos de artista.

c.(   ) Aquele rapaz tem péssima natureza.

d.(   ) Conservava, aos quarenta anos, todas as boas qualidades de sua natureza.

5. Em: “…e um papagaio cretino mas parlapatão…” (par. 2) a expressão em destaque indica que o papagaio era:

a.(   ) pouco inteligente mas muito falante

b.(   ) meio amalucado mas bonachão

c.(   ) pouco instruído mas muito observador

6. Em: “E quanto mais meditava mais tempo gastava…” (par. 2) a palavra em destaque significa:

a.(   ) planejava      b.(   ) pensava     c.(   ) examinava      d.(   ) estudava

7. Relacione as colunas de modo a fazer a correspondência entre as palavras que se seguem, formadas por auto e sua significação.

1. (   ) autocrítica                  a. vida de um indivíduo escrita por ele mesmo

2. (   ) autopunição              b. crítica feita por alguém a si mesmo

3. (   ) autobiografia             c. avaliação feita por um indivíduo para provar a ele próprio que sabe determinados conhecimentos

4. (   ) automóvel                  d. veículo que se locomove por seus próprios meios

5. (   ) auto-retrato                e. castigo imposto por um indivíduo a si mesmo

6. (   ) auto-avaliação           f. retrato de um indivíduo feito por ele mesmo

8. Em: “Temendo ver fracassado o seu experimento científico…” (par. 3) a palavra em destaque significa:

a.(   ) quebrado

b.(   ) reduzido a pedaços

c.(   ) mal-acabado

d.(   ) malsucedido

9. Em: “…sepultando a dama gentil…” (par. 8) a palavra em destaque significa:

a.(   ) escondendo     b.(   ) isolando    c.(   ) soterrando     d.(   ) abrigando

10. Em: “…em meio aos escombros…” (par. 8) a palavra em destaque significa:

a.(   ) restos de construção desmoronados

b.(   ) cinzas resultantes de um incêndio

c.(   ) ruídos provocados por um desmoronamento

d.(   ) substâncias venenosas

11. Em: “O gato, escondido melancolicamente num terreno baldio…” (par. 9) a palavra em destaque significa:

a.(   ) assustadoramente          b.(   ) tristemente

c.(   ) nervosamente                d.(   ) timidamente

Assinale a alternativa correta, de acordo com o texto.

12. São características da dama:

a.(   ) bondade, simpatia e inteligência

b.(   ) coragem, simpatia e desenvoltura

c.(   ) persistência, teimosia e velhice

13. O gato da dama é apresentado como sendo um animal:

a.(   ) bonito, terno, amigo, de boa raça e inteligente

b.(   ) bonito, inteligente, pacífico e preguiçoso

c.(   ) terno, amigo, raro e preguiçoso

d.(   ) bonito, terno, corajoso e inteligente

14. O fenômeno que a dama não conseguia compreender era:

a.(   ) a burrice do gato                    b.(   ) a mudez do papagaio

c.(   ) a inteligência do papagaio        d.(   ) a mudez do gato

15. O papagaio percebeu o que estava para acontecer-lhe quando:

a.(   ) olhou para a sua dona         b.(   ) escutou o que sua dona dizia

c.(   ) aproximou-se do gato          d.(   ) já estava para ser morto

16. Ao ter a ideia genial, a dama sentiu-se:

a.(   ) arrependida por ter que sacrificar a ave

b.(   ) satisfeita e recompensada

c.(   ) pesarosa pelo fato de a ideia não lhe ter ocorrido antes

d.(   ) temerosa de não estar certa

17. A operação que envolve a morte do papagaio até a ingestão do alimento por parte do gato durou aproximadamente:

a.(   ) 1 hora      b.(   ) 2 horas      c.(   ) 3 horas    d.(   ) 24 horas

Responda com sua palavras:

18. Quanto tempo era gasto diariamente pela dama com os métodos de ensino ao gato?_________________________________________________

19. Quando foi que ocorreu à dama a fórmula que lhe pareceu adequada para fazer com que o gato falasse?

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GABARITO

1. c     2. B    3. A      4. B     5. A     6. B      7. A seqüência é: b, e,  a, d, f, c       8. D     9. C    10. a     11. B     12. C     13. A      14. D    15. A     16. C      17. C

18. Todo dia a dama gastava uma a duas horas tentando ensinar o gato a falar.

19. Exatamente no dia 16 de maio de 1958.

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ANEXO B   –   CLASSE DE PALAVRAS

Neste Roteiro vamos dar início ao estudo das classes gramaticais.

Você deve estar se perguntando por que estudar classe de palavras. O motivo pelo qual devemos nos inteirar desses conhecimentos é que vai nos ajudar a usar mais adequadamente as palavras, ao escrevermos uma frase.

Para você saber como se escreve uma palavra no plural, ou o seu feminino, ou ainda, como saber que tal palavra dá a ideia de ação é necessário que estudemos as classes de palavras, em português.

Você sabe o que é classificar as palavras? É agrupá-las de acordo com as características e particularidades que possuem.

Podemos comparar a classificação das palavras como se nós classificássemos os veículos por tamanho, tipo de combustível usado, cor, finalidade, modelo, ano de fabricação, potência, etc. Através dessas informações podemos escolher que tipo de veículo usar para determinado trabalho. Assim é com as palavras, quanto mais soubermos sobre elas, mais aumenta nossa chance de as usarmos melhor.

Em nossa língua existem dez classes de palavras e cada uma tem características próprias.

Dentre as principais características das classes de palavras, em português, temos as que sofrem alteração na sua forma – as VARIÁVEIS (substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo) – e as que não sofrem nenhuma alteração – as INVARIÁVEIS (advérbio, preposição, conjunção, interjeição).

Portanto: 1. As classes de palavras variáveis são aquelas que se modificam de acordo com o seu emprego na frase

2. As classes de palavras invariáveis são aquelas que não de modificam, não alteram a sua forma ao serem usadas na frase.

O estudo das classes de palavras deve ser feito especialmente para entendermos o relacionamento entre elas, na frase, pois é neste relacionamento que está o “x” da questão da nossa comunicação.

Quantas vezes não ouvimos, dizemos ou escrevemos bobagens, só porque não sabemos como empregar bem as palavras?

Outra característica que podemos observar nas classes das palavras é que existem classes:

1 – BÁSICAS – são as que dão entendimento à frase. Sem elas, não é possível nos fazer entender. São elas: o substantivo e o verbo.

2 – DEPENDENTES – são as que dependem do substantivo e do verbo para serem entendidas na frase. São: o artigo, o adjetivo, o pronome, o numeral e o advérbio.

3 – DE LIGAÇÃO – são as que exercem a função de ponte entre as palavras das classes básicas e dependentes. São: a preposição e a conjunção.

4 – INDEPENDENTES – são as que não precisam de nenhuma outra classe para ser entendida na frase. São as interjeições.

O FENÔMENO DA RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE AS PALAVRAS

Dissemos que o substantivo e o verbo  são classes de palavras BÁSICAS. Quando construímos uma frase, o substantivo e o verbo são  palavras que fazem muita diferença no seu sentido. Quer ver? Observe a frase:

João chegou.

Na frase acima temos João (substantivo) e chegou (verbo). Se retirarmos qualquer uma delas da frase, não conseguiremos entender nada. Só João (substantivo) nos indica apenas o nome de alguém. Só chegou (verbo) nos informa uma ação realizada. Mas, quando juntamos as duas palavras (substantivo + verbo) aí, sim, ficamos sabendo que uma pessoa de nome João fez uma ação: a de chegar. Por isso é que o SUBSTANTIVO e o VERBO são consideradas classe de palavras básicas. Sem elas, não podemos construir frases com sentido completo.

Mas, além dessas duas classes, ainda temos as outras que compõem a frase. Vejamos qual é a relação existentes entre elas. Observe o grupo de palavras abaixo:

1. Cachorro saiu garagem.

De algum modo você entende o que se está informando. São as BÁSICAS.  Entretanto, percebe-se que faltam palavras para que a frase soe com mais precisão. Vamos usar algumas para dar melhor compreensão a ela:

2. O cachorro saiu dentro garagem.

Agora o grupo de palavras ficou com sentido mais amplo. Ficamos sabendo mais um detalhe a respeito do cachorro. A letra “o” (artigo) definiu a palavra “cachorro”. Não é um animal qualquer e não são muitos, mas um só; e ele estava em um lugar: dentro (advérbio de lugar) da garagem. Veja que as palavras que foram acrescentadas têm uma relação de dependência de sentido. Sem o verbo e o substantivo elas não tem sentido. Por isso são chamadas DEPENDENTES. Mas ainda percebemos que na frase está faltando algumas palavras. Vamos acrescentar as que estão faltando:

3. O cachorro saiu de dentro da garagem.

Agora temos uma frase à qual não falta nada à sua estrutura, à sua construção. As palavras acrescentadas de, da (preposição) servem de “ponte” entre o verbo, o advérbio e o substantivo. São as DE LIGAÇÃO.

Você deve ter percebido que as palavras não foram colocadas em qualquer lugar na frase. Elas tiveram que ser inseridas em lugares onde só ali elas dariam e teriam sentido.  Este é um fenômeno lingüístico, em português, que não percebemos, a não ser quando colocamos as palavras fora do seu lugar na estrutura da frase.

Quando uma criança começa aprender a falar, em português, ela aprende essa estrutura naturalmente porque seus pais, seus irmãos, as pessoas em volta dela a ensinam sem perceber que a estão ensinando. É por isso que é mais fácil aprender a falar uma língua quando somos crianças, apenas ouvindo alguém falar.

Mas, a comunicação não é apenas o falar uma língua. Também a escrita, e principalmente ela, faz parte da nossa comunicação. E como a comunicação escrita é dirigida para pessoas que não estão presentes na hora em que estamos fazendo essa comunicação, torna-se necessário que se conheça bem como arrumar as palavras na frase, para que não haja dúvidas no momento em que alguém leia o que escrevemos.

Exercícios

Organize cada grupo de palavras abaixo, de forma que apresentem um todo com significado.

1. gato, uma, era, e, senil, possuía, siamês, que, vez, dama, um, uma, gentil

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2.  fome, com, porque, papagaio, gato, comeu, o, ficou, muita

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3. tentava, senhora, a velha, gato, o, a falar, ensinar

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4. depois, a casa, o gato, terreno, caiu, num, baldio, escondeu-se, que

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Coloque F (falso) ou V (verdadeiro) nas afirmações abaixo:

5. (    ) As palavras devem ocupar um lugar certo dentro da frase para transmitirem uma mensagem clara e correta.

6.  (   ) Em português, existem dez classes de palavras que são invariáveis na sua forma de emprego na frase.

7. (   ) Para escrevermos uma frase, basta que se conheça como são escritas as palavras.

8. (   ) Existem palavras que dependem de outras para terem significado dentro da frase.

GABARITO

  1. era uma vez uma dama gentil e senil que possuía um gato siamês.
  2. O gato comeu o papagaio porque ficou com muita fome
  3. A velha senhora tentava ensinar o gato a falar
  4. O gato escondeu-se num terreno baldio depois que a casa caiu
  5. (V)    6. (F)    7. (F)      8. (V)

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LEITURA SUPLEMENTAR

ERRO DE ORTOGRAFIA NÃO É ERRO DE PORTUGUÊS

Outra conseqüência negativa do apego exclusivo da Gramática Tradicional à língua escrita é a importância exagerada concedida aos chamados erros de ortografia. Se você reparar bem, uma grande maioria do que as pessoas em geral (e os fiscais da língua, em particular) chamam de “erro de português” são, na verdade, simples desvios de ortografia oficial.

A primeira providência para limpar esse terreno é ter em mente que a ortografia de uma língua, o modo de escrever, não faz parte da gramática da língua. Como já foi dito aqui, milhões de pessoas passam a vida inteira no total desconhecimento das formas escritas de sua língua, apesar de falarem ela perfeitamente, empregando sem dificuldade as regras gramaticais dela. A ortografia foi um artifício inventado pelos seres humanos, para poder registrar por mais tempo as coisas que eram ditas. A ortografia oficial, em todos os países, é uma decisão política, é uma lei, um decreto assinado pelos que tomam as decisões em nível nacional. Por isso, ela pode ser modificada ao longo do tempo, segundo critérios racionais e mais ou menos científicos, ou segundo critérios sentimentais, políticos e religiosos.

……

Ao contrário da língua, que é natural, a ortografia é artificial. Imagine se um governante maluco decidir reformar a língua toda: “A partir de hoje o que antes se chamava árvore vai se chamar dendro; os pronomes eu, tu, você, ele vão ser substituídos por zi, gã, xu…” Não haveria a menor chance de dar certo. No entanto já houve decretos nos países de língua portuguesa em que se tornava lei substituir todo PH por F, todo Y por I, todo TH por T e assim por diante. A alteração da ortografia não provoca alteração nas estruturas gramaticais da língua.  Por isso, conseguimos entender um texto escrito com sistemas ortográficos antigos – onde podem aparecer, por exemplo, CHIMICA, PHYSICA, MATHEMATICA, PHILOSOPHIA, PHARMACIA, HOMOEPHATICA, EGREJA, EGYPTO, SCENOGRAPHIA… – porque a gramática da língua não foi alterada.

…..

O peso da tradição gramatical, no entanto, leva muita gente a confundir saber a língua com saber a ortografia oficial da língua. Por isso, antes de sair pintando de vermelho uma redação ou qualquer texto produzido por um aluno, é sempre melhor ler com atenção, procurar captar as intenções do texto, as ideias  que ele quer comunicar, os conhecimentos de mundo que ele pode transmitir, para só depois, numa segunda etapa, aplicar as regras da ortografia oficial para adequar o texto a elas.

(BAGNO, Marcos. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. Parábola Editora, São Paulo, 2ª Edição, 2001)

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