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Passo a Passo da Leitura Literária

DOM CASMURRO – Capítulo I

By 24 August 2010One Comment

O PASSO A PASSO DA LEITURA LITERÁRIA

DOM CASMURRO

Obra de Machado de Assis

APRESENTAÇÃO:

Esta leitura passo a passo quer permitir ao leitor entrar no mundo da leitura e deliciar-se com ela. Mas, não só isso, quer também ajudar a descobrir algumas mensagens que os escritores deixaram em suas obras porque tiveram ou não essa intenção.

O fato é que as obras se eternizam justamente por causa da mensagem que se torna tão atual, apesar de seus autores as terem escrito em passados bastantes remotos.

É por isso que a mensagem da Bíblia, com seus livros escritos em anos que nos fogem à contagem (muitos anos antes de Cristo), não caiu no esquecimento das pessoas. Sua mensagem é tão atual que, se não fora as pesquisas arqueológicas, diríamos que seus autores viveram nos nossos dias.

Assim acontece com obras como esta, de Machado de Assis. Há quem diga que se trata de uma história chata, de leitura difícil. Quem fala assim nunca abriu a primeira página e leu o primeiro capítulo da obra.

Não vamos aqui dar um resumo da história. Nossa intenção, caro leitor, é que você mesmo descubra a inventividade do escritor, em como ele usou as palavras para elaborar o seu pensamento e assim mandar a mensagem para você. Nossa tarefa, será apenas de guiá-lo nessa leitura, através de algumas perguntas de interpretação do texto. O resto será por sua conta.

Ao final você verá que valeu a pena ler DOM CASMURRO.

Você terá a oportunidade de refletir sobre o que leu ao responder às perguntas sobre o capítulo e assim compreender melhor a narrativa.

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CAPÍTULO I – Do Título

1. Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.

2. –  Continue, disse eu acordando.

3. –  Já acabei, murmurou ele.

4. –  São muito bonitos.

5. Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou de gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: “Dom Casmurro, domingo vou jantar com você.” – “Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renânia; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo.” – “Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça.”

6. Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fildalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver outro daqui até o fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto.

Vocabulário:

Conhecer de vista e de chapéu – ter um conhecimento superficial

Sentar ao pé de – sentar muito próximo, ao lado de

Amuado – chateado,

Alcunha – apelido

Fumos de fidalgo – ares de pessoa pertencente à Corte, pessoa de fina educação

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Após a leitura desse capítulo reflita sobre o texto, respondendo às questões:

1. O texto narra o encontro entre:

a. (   ) o narrador da história e um rapaz

b. (   ) o narrador da história e Dom Casmurro

c. (   ) o narrador da história e seus amigos da cidade

d. (   ) o narrador da história e seus vizinhos

2. O encontro aconteceu:

a. (   ) em um trem, durante a noite

b. (   ) no bairro onde moravam Dom Casmurro e o rapaz

c. (   ) na cidade do Rio de Janeiro

d. (   ) em Petrópolis.

3. Por que o narrador da história recebeu o apelido de Dom Casmurro?

4. Qual é o assunto do texto?

5. Na frase: “Há livros que apenas terão isso dos seus autores; outros nem tanto”, Machado de Assis faz alusão a uma prática que acontecia em sua época e que também acontece nos dias de hoje, e é considerada crime. Explique qual é a prática.

6. Vez por outra, em sua obra, Machado interrompe a narrativa para dirigir-se diretamente ao leitor. Esse fato ocorreu na seguinte frase do texto:

a. (   ) “Não consultes dicionários.”(parágrafo 6)

b. (   ) “- São muito bonitos.”(parágrafo 4)

c. (   ) “- Vou para Petrópolis…”(parágrafo 5)

d. (   ) “… sentou-se ao pé de mim…” (parágrafo 1)

7. A expressão: “… entrou a dizer…” (parágrafo 5), significa:

a. (   ) acabou por dizer

b. (   ) deixou de dizer

c. (   ) pretendeu dizer

d. (   ) começou a dizer

8. A expressão: “…deram curso à alcunha…” (parágrafo 5), significa:

a. (   ) contaram a história para outras pessoas

b. (   ) passaram a chamar o narrador pelo apelido

c. (   ) consideraram que casmurro era também o poeta do trem

d. (   ) os vizinhos não gostaram do apelido.

9.Na frase: “Casmurro não está aqui no sentido que eles lhes dão…” (parágrafo 6), a palavra “eles” refere-se aos:

a. (   ) dicionários

b. (   ) amigos de Dom Casmurro

c. (   ) vizinhos de Dom Casmurro

d. (   ) ao rapaz do trem e seus colegas

10. Assinale a única afirmativa correta em relação às palavras em destaque no trecho abaixo:

“Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhes dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para minha narração; se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores, alguns nem tanto.”

a. (   ) Em: “Não consultes dicionários”, o sujeito da oração é Casmurro.

b. (   ) O pronome “meu” é empregado com sentido possessivo e não com sentido afetivo.

c. (   ) “Cuidar” significa tomar conta de.

d. (   ) Em: “Há livros que apenas terão isso…” o sujeito de terão é “que”.

e. (   ) A palavra “alguns” refere-se à palavra “autores”.

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Gabarito:

1. a       2. A

3. Porque o rapaz que o alcunhou (apelidou) ficou chateado com a maneira como o narrador da história se comportou no trem durante a conversa que tiveram e os vizinhos passaram a chamá-lo assim por causa dos seus hábitos reclusos e calados.

4. A justificativa do título do livro, dado pelo narrador.

5. A prática a que Machado de Assis se refere é a apropriação e cópia das ideias e da produção intelectual dos escritores. Esta prática é chamada de plágio, e é crime contra a autoria intelectual de escritores e artistas.

6. A       7. D       8. B        9. A      10. D


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