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ATIVIDADES/EXERCÍCIOSEnsino FundamentalTEXTOS PARA INTERPRETAÇÃO

TEXTO PARA INTERPRETAÇÃO 7 (Ens.Fund) – ANTIGAMENTE

By 9 March 201113 Comments

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO 2 – Nível: Ensino Fundamental

A linguagem falada não é um elemento fixo e imutável. Ao contrário, reflete mudanças do meio social. Vem se transformando através dos tempos e – o mais notável – pode mudar, dentro de uma mesma época, de acordo com as circunstâncias sociais.
Ao ler o texto de Carlos Drummond de Andrade, que viveu no século XX (1902-1987), você vai sentir a afirmação acima e vai se divertir com o enusitado da linguagem através dos tempos.
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ANTIGAMENTE

1.          Antigamente as moças chamavam-se “mademoiselles” e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhe pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia.
2.          As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca, e não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa. O que não impedia que, nesse entremente, esse ou aquele embarcasse em canoa furada. Encontravam alguém que lhes passava a manta e azulava, dando às de Vila-Diogo.
3.          Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar a fresca; e também tomavam cautela de não apanhar o sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, chupando balas de alteia. Ou sonhavam em andar de aeroplano. Estes, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’água.
4.          Havia os que tomavam chá em criança e, ao visitarem uma família da maior consideração, sabiam cuspir na escarradeira. Se mandavam seus respeitos a alguém, o portador garantia-lhes: “Farei presente”. Outros, ao cruzarem com um sacerdote, tiravam o chapéu, exclamando: “Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”; ao que o cumprimentado respondia: “Para sempre seja louvado”. E os eruditos, se alguém espirrava – sinal de defluxo – eram impelidos a exortar: “Dominus tecum”.
5.          Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso punham a mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a tramontana. A pessoa cheia de melindres ficava sentida com a desfeita que lhe faziam quando, por exemplo, insinuavam que seu filho era artioso. É verdade que às vezes os meninos eram encapetados, e chegavam a pitar escondido atrás da igreja. As meninas não: verdadeiros cromos, umas teteias.
6.          Antigamente, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios; outros eram pegados com a boca na botija, contavam tudo tintim-por-tintim e iam comer o pão que o diabo amassou, lá onde Judas perdeu as botas.
7.          Uns raros amarravam cachorros com linguiça. E alguns ouviam cantar o galo, mas não sabiam onde. As famílias faziam sortimento na venda, tinham conta no carniceiro e arrematavam qualquer quitanda que passasse à porta, desde que o moleque do tabuleiro, quase sempre um “cabrito”, não tivesse catinga. Acolhiam com satisfação a visita do cometa, que, andando por ceca e meca, traziam as novidades “de baixo”, ou seja, do Rio de Janeiro. Ele vinha dar uma prosa e deixar presente ao dono da casa um canivete roscofe. As donzelas punham carmim e chegavam à sacada para vê-lo apear do macho faceiro. Infelizmente, alguns eram mais que velhacos: eram grandessíssimos tratantes.
8.          Acontecia o indivíduo apanhar uma constipação; ficando perrengue, mandava um próprio chamar o doutor e, depois, ia à botica para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas fedorentas. Doença nefasta era a phtysica.
9.          Antigamente os sobrados tinham assombrações; os meninos, lombrigas; asthma, os gatos; os homens portavam ceroulas, botinas e capa de goma; a casimira tinha de ser superior e mesmo X.P.T.O. London; não havia fotógrafos, mas retratistas e os cristãos não morriam: descansavam.
10.          Mas tudo isso era antigamente, isto é, outrora.

(Carlos Drummond de Andrade, Quadrante, 14ª Edição, Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1966)
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A. Faça a correspondência entre as frases que contenham o mesmo significado:

a. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhe pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio.

b. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva.

c. As pessoa, quando corriam, era para tirar o pai da forca.

d. O que não impedia que esse ou aquele embarcasse em canoa furada.

e. Estes, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas e até em calças pardas.

f. Não admira que dessem com os burros n’água.

g. Ao visitarem uma família de maior consideração, sabiam cuspir na escarradeira.

h. Antigamente, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios.

i. Outros eram pegados com a boca na botija.

j. Jogavam verde para colher maduro.

k. Sabiam com quantos paus se faz uma canoa.

l. Faziam o quilo, saindo para tomar a fresca.

m. Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário e com isso punham a mão em cumbuca.

n. Era natural que com eles a gente perdesse a tramontana.

o. Ouviam o galo cantar, mas não sabiam onde.

p. Uns raros amarravam cachorros com linguiça.

1. (   ) Não admira que se dessem mal.

2. (   ) Faziam negócios e ficavam sem nada.

3. (   ) Os mauricinhos, mesmo não sendo boas pintas, paqueravam, mas ficavam curtindo uma de esperar.

4. (  ) Ao visitarem uma família bem instruída, sabiam portar-se devidamente.

5. (   ) O que não impedia que esse ou aquele entrasse numa fria.

6. (   ) Outros eram pegos em flagrante.

7. (   ) Se levavam um fora, o jeito era sair pra outra.

8. (   ) As pessoa só se apressavam, só corriam em casos extremos.

9. (   ) Estes, de pouco siso, metiam-se em confusões.

10. (   ) Uns poucos viviam na riqueza, esbanjando à vontade.

11. (   ) Procuravam sondar, davam uma pequena “dica” para obter informações maiores.

12. (   ) Tinham ouvido falar, por alto, no assunto mas não conheciam os detalhes.

13. (   ) Conheciam muito bem o assunto, estavam bem informados.

14. (   ) Era natural que com eles a gente se desnorteasse, se atrapalhasse até perder a paciência.

15. (   ) Digeriam tranquilamente a refeição dando uma voltinha.

16. (   ) Embora, por fora do assunto, queriam dar uma de entendidos e aí se complicavam.

B. Traduza o texto de Carlos Drummond de Andrade, para a linguagem padrão atual, porém ser usar gírias grosseiras ou expressões idiomáticas.

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GABARITO

Questão A:

1. F         2. H         3. A          4. G          5. D           6. I         7. B         8. C

9. E       10. P       11. J         12. O        13. K         14. N     15. L        16. M

Questão B:

Seu texto deve ter ficado mais ou menos assim:

Antigamente as moças eram educadas e elegantes e eram todas muito lindas e boas donas de casa. A festa de aniversário mais esperada era quando completavam 18 anos, pois nessa idade eram, em geral, pedidas em casamento. Os rapazes, mesmo que não fossem bonitões, paqueravam as moças, de longe, sem se manifestarem. E se recebiam um “não” para suas pretensões de namoro, o jeito era procurar outra namorada.

As pessoas, quando corriam, era porque estavam com muita pressa e não eram surpreendidas por qualquer coisa, ruim ou boa. Algumas davam pequenas informações com a esperança de obter outras que ninguém sabia e com isso julgavam saber mais que os outros. Enquanto isso, haviam os que ficavam em situação difícil ou, às vezes, embaraçosa, porque eram iludidos, abandonados e desapareciam sem deixar vestígios.

Os mais velhos, depois das refeições, faziam a digestão indo passear em locais frescos e calmos. E tomavam cuidado para não se resfriarem. Os jovens iam ao cinema e chupavam bombons de hortelã e gengibre. Ou sonhavam em andar de avião. Estes, sem nenhuma vergonha, se metiam em confusão e situações difíceis; por isso se enganavam e perdiam bons negócios.

Havia os que recebiam uma boa educação quando crianças e quando estavam em ambientes requintados sabiam se comportar devidamente. Se enviavam alguma mensagem a alguém, o portador da mesma assegurava que a entregaria. Outros, quando encontravam um padre, tiravam o chapéu em sinal de respeito e diziam: “Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!” e o padre sempre respondia: “Para sempre seja louvado!” E os que tinham mais co-nhecimento, se alguém espirrava – sinal de alguma alergia ou gripe – eram impelidos a dizer: “O Senhor esteja contigo!”

Os presunçosos, apesar de não terem conhecimento suficiente sobre alguns assuntos, queriam demonstrar que os entendiam  aí se complicavam. Era natural que com eles as pessoa se atrapalhassem e perdessem a paciência. Haviam os que ficavam magoados por qualquer negativa que lhes fizessem ou se se referissem aos seus familiares de modo sincero ou verdadeiro sobre seu mau comportamento. Era verdade que os meninos eram bem ardilosos e até fumavam escondido. As meninas, não: essas eram muito educadas, não faziam bagunça, verdadeiras “ladies”.

Antigamente, certos homens faziam negócios e perdiam tudo; outros eram flagrados fazendo coisas erradas. E por isso tinham que explicar tudo, minuciosamente, às autoridades. O resultado é que tinham que pagar por seus erros sofrendo as penalidades da lei e da sociedade, bem longe dos seus familiares  e amigos e até de sua cidade.

Uns raros, bem ricos, esbanjavam dinheiro e riquezas com coisas fúteis. E outros ouviam falar de alguns assuntos sem, entretanto, conhecer os seus detalhes. As famílias compravam os produtos alimentícios nos super-mercados, tinham crédito no açougue e compravam qualquer coisa que lhe fosse oferecida na porta de casa, desde que o vendedor, quase sempre um negrinho magro, estivesse bem limpo e cheiroso. Recebiam com satisfação a visita dos vendedores ambulantes, que viajavam por várias cidades, levando as últimas novidades da indústria do Rio de Janeiro e São Paulo. Eles vinham oferecer suas mercadorias e quase sempre deixar como presente ao dono da casa, algum objeto que lhe fosse útil e de marca conhecida. As moças se maquiavam e ficavam à janela para vê-los descer do cavalo. Infelizmente alguns não eram confiáveis.

Se acontecia de um indivíduo ficar gripado ou resfriado, mandava um mensageiro chamar o médico e, depois ia à farmácia comprar os remédios, quase sempre de cápsulas ou pílulas de cheiro ruim. Doença sem cura era a tuberculose.

Antigamente as mansões eram habitadas por espíritos que assombravam as pessoa; os meninos tinham verminose; os gatos tinham asma; os homens usavam cuecas, sapato de couro de cano médio e paletó engomado. A casimira tinha de ser de boa qualidade, da marca X.P.T.O. London. Os fotógrafos eram chamados de retratistas e os cristãos quando morriam, descansavam.

Mas isto foi há muito tempo atrás.

13 Comments

  • Marly Araujo says:

    Nossa! Esses textos são super divertidos. Além das informações, são gostosos de ler e fáceis de compreender. Obrigada! E continue postando mais textos.

  • Noisssss says:

    Marly Araujo :Nossa! Esses textos são super divertidos. Além das informações, são gostosos de ler e fáceis de compreender. Obrigada! E continue postando mais textos.

  • Lucas Magno says:

    Oi! Esse texto foi tema de minha prova de português!
    Professora Micheline, agora sei de onde você tira esses textos!

  • Thais says:

    Ah! É um texto ótimo para ler calmo e é interessante porque fala sobre antigamente.

  • Nathan says:

    Agora eu sei onde minha professora de português tira esses textos.

  • Alana Benevenuto says:

    Eu estou fazendo um trabalho com esse texto, com a profª Ana Karina, de Português .

  • francisca says:

    Meu professor passou isso pra mim. Obrigada, me ajudou muito!

  • admin says:

    Olá, Maria das Graças! Obrigada pela visita ao nosso site. Respondendo a sua pergunta, informamos que Carlos Drummond de Andrade não estava se referindo a um ano específico do nosso calendário gregoriano quando escreveu esse texto. Ao usar as expressões idiomáticas no texto, ele faz referências a um passado da nossa língua, a um tempo em que as pessoas usavam-nas para exprimir algumas idéias e que ao longo do tempo deixaram de ser usadas ou foram substituídas por outras. Algumas dessas expressões ainda são usadas hoje, como: “dar com os burros n’água”, “jogar verde para colher maduro”, “ser pego com a boca na botija”, “comer o pão que o diabo amassou”, e muitas outras. A propósito, a atual novela das 18 horas da Rede Globo “Lado a Lado”, já utilizou a palavra “janota”, muito usada à época em que a trama é urdida (início do século XX) para indicar jovem rico e elegante, e que hoje não se ouve mais na fala usual dos brasileiros. Por isso o autor termina o texto: “mas tudo isso era antigamente, isto é, outrora.”

    Esperamos ter aclarado a sua dúvida.

  • Diara Pereira Motta says:

    Adorei o texto, pois sou louca por expressões idiomáticas.

  • Maianny says:

    Muiito interessante.

  • LUCAS says:

    MEU PROFESSOR PASSOU ISSO.

  • jurema says:

    Salvou minha aula de latim.

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