Skip to main content
Literatura BrasileiraPasso a Passo da Leitura Literária

DOM CASMURRO – Capítulo 14

By 30 December 2011One Comment

DOM CASMURRO – CAPÍTULO 14

Machado de Assis descreve, nesse capítulo, um momento único entre dois adolescentes. A descrição é carregada de emoções fortes, sensuais, mas ao mesmo tempo inocentes, puras. Leitor(a), vale a pena deixar a sua imaginação criar a imagem desse momento. Portanto, leia-o.

A INSCRIÇÃO

Tudo o que contei no fim do outro capítulo foi obra de um instante. O que se lhe seguiu foi ainda mais rápido. Dei um pulo, e antes que ela raspasse o muro, li estes dois nomes, abertos ao prego, e assim dispostos:

BENTO

CAPITOLINA

Voltei-me para ela; Capitu tinha os olhos no chão. Ergueu-os logo, devagar, e ficamos a olhar um para o outro… Confissão de crianças, tu valias bem duas ou três páginas, mas quero ser poupado. Em verdade, não falamos nada; o muro falou por nós. Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco, todas quatro, pregando-se, apertando-se, fundindo-se. Não marquei a hora exata daquele gesto. Devia tê-la marcado; sinto a falta de uma nota escrita naquela mesma noite, e que eu poria aqui com os erros de ortografia que trouxesse, mas não traria nenhum, tal era a diferença entre o estudante e o adolescente. Conhecia as regras do escrever, sem suspeitar as de amar; tinha orgias de latim e era virgem de mulheres.

Não soltamos as mãos, nem elas se deixaram cair de cansadas ou de esquecidas. Os olhos fitavam-se e desfitavam-se, e depois de vagarem ao perto, tornavam a meter-se uns pelos outros… Padre futuro, estava assim diante dela como de um altar, sendo uma das faces a Epístola e a outra o Evangelho. A boca podia ser o cálix. Os lábios a patena. Faltava dizer a missa nova, por um latim que ninguém aprende, e é a língua católica dos homens. Não me tenhas por sacrílego, leitora minha devota; a limpeza da intenção lava o que puder haver menos curial no estilo. Estávamos ali com o céu em nós. As mãos, unindo os nervos, faziam das duas criaturas uma só, mas uma só criatura seráfica. Os olhos continuaram a dizer coisas infinitas, as palavras de boca é que nem tentavam sair, tornavam ao coração caladas como vinham…

_______________________________________________

Vocabulário:

Orgia – festa libidinosa, sensual.

Cálix – copinho usado na missa para a consagração do vinho. Machado de Assis usou aqui a grafia oriunda do latim.

Patena – prato pequeno que serve para cobrir o cálice e para receber a hóstia.

Católica – o sentido da palavra nesta frase é: universal. Não se refere à religião comandada pelo papa.

Sacrílego – aquele que cometeu uma ação contra algo sagrado

Curial – conveniente, próprio.

Seráfica – angelical.

____________________________________________________________

O capítulo descreve um momento único entre Bentinho e Capitu, que revelam um ao outro algo que sentem. Descubra o que é e como essa revelação foi feita.

_____________________________________________________________

Gabarito:

Bentinho e Capitu revelam um ao outro que se amam através de gestos e olhares. Capitu havia escrito seus nomes no muro e Bentinho os leu, o que só confirmou o sentimento entre ambos.

One Comment

Leave a Reply