DOM CASMURRO – CAPÍTULO 15
No Capítulo 14, Bentinho descobriu que Capitu o amava, além de ter confirmado para si mesmo, o seu próprio sentimento. Entretanto, algo os trouxe à realidade daquele momento.
OUTRA VOZ REPENTINA
Outra voz repentina, mas desta vez uma voz de homem:
– Vocês estão jogando o siso?
Era o pai de Capitu, que estava à porta dos fundos, ao pé da mulher. Soltamos as mãos depressa, e ficamos atrapalhados. Capitu foi ao muro, e, com o prego, disfarçadamente, apagou os nossos nomes escritos.
– Capitu!
– Papai!
– Não me estragues o reboco do muro.
Capitu riscava sobre o riscado, para apagar bem o escrito. Pádua saiu ao quintal, a ver o que era, mas a filha já tinha começado outra coisa, um perfil, que disse ser o retrato dele, e tanto podia ser dele como da mãe; fê-lo rir, era o essencial. De resto, ele chegou sem cólera, todo meigo, apesar do gesto duvidoso ou menos que duvidoso em que nos apanhou. Era um homem baixo e grosso, pernas e braços curtos, costas abauladas, donde lhe vinha a alcunha de Tartaruga, que José Dias lhe pôs. Ninguém lhe chamava assim lá em casa: era só o agregado.
– Vocês estavam jogando o siso? Perguntou.
Olhei para um pé de sabugueiro que ficava perto; Capitu respondeu por ambos.
– Estávamos, sim, senhor; mas Bentinho ri logo, não aguenta.
– Quando eu cheguei à porta, não ria.
– Já tinha rido das outras vezes; não pode. Papai quer ver?
E séria, fitou em mim os olhos, convidando-me ao jogo. O susto é naturalmente sério; eu estava ainda sob a ação do que trouxe a entrada de Pádua, e não fui capaz de rir, por mais que devesse fazê-lo, para legitimar a resposta de Capitu. Esta, cansada de esperar, desviou o rosto, dizendo que eu não ria daquela vez por estar ao pé do pai. E nem assim ri. Há coisas que só se aprendem tarde; é mister nascer com elas para fazê-las cedo. E melhor é naturalmente cedo que artificialmente tarde. Capitu, após duas voltas, foi ter com a mãe, que continuava à porta da casa, deixando-nos a mim e ao pai encantados dela; o pai, olhando para ela e para mim, dizia-me, cheio de ternura:
– Quem dirá que esta pequena tem quatorze anos? Parece dezessete. Mamãe está boa? continuou voltando-se inteiramente para mim.
– Está.
– Há muitos dias que não a vejo. Estou com vontade de dar um capote ao doutor, mas não tenho podido, ando com trabalhos da repartição em casa; escrevo todas as noites que é um desespero; negócio de relatório. Você já viu o meu gaturamo? Está ali o fundo. Ia agora mesmo buscar a gaiola; ande ver.
Que o meu desejo era nenhum, crê-se facilmente, sem ser preciso jurar pelo céu nem pela terra. Meu desejo era ir atrás de Capitu e falar-lhe agora do mal que nos esperava; mas o pai era o pai, e demais amava particularmente os passarinhos. Tinha-os de vária espécie, cor e tamanho. A área que havia no centro da casa era cercada de gaiolas de canários, que faziam, cantando, um barulho de todos os diabos. Trocava pássaros com outros amadores, comprava-os, apanhava alguns, no próprio quintal, armando alçapões. Também, se adoeciam, tratava deles como se fossem gente.
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Após a leitura responda às questões a respeito do texto.
- O texto informa s presença de um novo personagem. Quem é?
- O que Capitu faz para disfarçar o que tinha escrito no muro?
- Qual foi a reação de Bentinho diante da presença do sr. Pádua?
- O sr. Pádua desconfiou do que estava acontecendo entre Bentinho e Capitu? Explique.
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Gabarito
- O pai de Capitu, o sr. Pádua.
- Passou a riscar sobre o que já estava escrito com o objetivo de apagá-lo.
- Ficou sério, pois não conseguia saber se o sr. Pádua tinha visto a ambos de mãos dadas.
- Não. O sr. Pádua não se referiu a nada sobre o episódio e nem se mostrou zangado por Capitu estar riscando o muro. Em seguida passou a conversar com Bentinho sobre outros assuntos.