TEXTO PARA INTERPRETAÇÃO 74 – HISTORINHA URBANA (Nível Fundamental)
HISTORINHA URBANA
– Pare na esquina – disse o passageiro.
O chofer obedeceu.
– São cinco cruzeiros – informou ele, indicando os números antes de fazer o taxímetro voltar a zero. O passageiro estendeu-lhe uma nota de dez:
– Cobre aqui.
O motorista balançou negativamente a cabeça:
– Não tenho troco – disse.
– E como é que vamos fazer? – perguntou o passageiro. – Se houvesse alguém aí em casa… Mas está todo mundo viajando e o dinheiro mais miúdo que eu tenho é essa nota de dez.
– Bem – falou o chofer – o jeito é a gente procurar onde trocar essa nota.
– Sim, acho que é a única coisa que se pode fazer – concordou o passageiro.
O táxi arrancou quase num salto.
– Por aqui não vai ser nada fácil encontrar quem troque – disse o passageiro, reajustando os rins abalados pela arrancada. – Ainda mais hoje, domingo, com quase tudo fechado.
Rodaram algum tempo em silêncio. Depois o chofer falou:
– Vamos ver se conseguimos trocar naquela quitanda lá adiante.
Não conseguiram.
– Acho que esse cara está é com má vontade – disse o chofer quando retornaram ao carro.
– Talvez ele não tenha mesmo troco – disse o passageiro.
– Então experimento trocar comprando uma carteira de cigarro.
– Eu não fumo – respondeu o passageiro.
– Então… compre qualquer coisa.
– Que coisa?
– Bom… Que tal uma garrafa de cachaça?
Não havia troco. A garrafa continuou na prateleira, para decepção do chofer.
Voltaram ao táxi. Daí por diante, infelizmente, estava tudo fechado. O passageiro se sonhava em casa, depois de uma longa chuveirada, lendo o jornal comodamente instalado na sua poltrona predileta, quando o chofer voltou a falar.
– Bom, acho que estamos novamente no ponto de partida – disse ele.
– É – concordou melancolicamente o passageiro. – Foi logo ali adiante que eu tomei o seu táxi.
– Isso quer dizer que não há mais problema – falou o chofer.
– Não? – perguntou o passageiro.
– Claro que não. Daqui pra sua casa a corrida deu cinco cruzeiros, não foi?
– Foi.
– Então, embora o taxímetro esteja desligado, sabemos que uma corrida de sua casa para cá também dá cinco cruzeiros. Sendo assim, não precisamos mais trocar o dinheiro: são exatamente dez cruzeiros. Eu dispenso o quebrado a mais do tempo em que ficamos parados naquela quitanda.
O passageiro sentiu-se subitamente aliviado. Entregou a nota de dez ao chofer, agradeceu, saltou do táxi – e foi a pé para casa.
RUY ESPINHEIRA FILHO. Sob o último sol de fevereiro. Civilização Brasileira, 1975, Rio de Janeiro.
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Responda às questões abaixo:
A. Relacione a frase ao significado apresentado da palavra nota:
1. O passageiro estendeu-lhe uma nota de dez.
2. O freguês apresentou a nota das compras.
3. O violinista acertou as notas executadas no concerto.
4. O professor informou a nota do aluno.
a. ( ) resultado numérico do aproveitamento de um aluno na escola
b. ( ) sinal que representa um som, na música.
c. ( ) relação de mercadoria com quantidade e preço.
d. ( ) papel que representa moeda, dinheiro.
B. Para que serve o taxímetro?
C. O passageiro não tinha dinheiro trocado e o motorista não tinha troco. Na sua opinião, qual deles é o principal causador do impasse?
D. Todas as sugestões para resolver a questão partiram do motorista. Isso demonstra que:
a. ( ) o motorista se sentia culpado
b. ( ) o passageiro era passivo e acomodado
c. ( ) o motorista queria lucrar com a situação
d. ( ) o passageiro pretendia não pagar a corrida.
E. Se você fosse o passageiro, que solução apresentaria logo no início para resolver o problema?
F. Observamos pelo desenvolvimento do texto que o passageiro:
a. ( ) não fumava nem bebia bebida alcoólica
b. ( ) não fumava, mas bebia
c. ( ) fumava e bebia
d. ( ) fumava mas não bebia
G. De acordo com o texto, conclui-se que o motorista:
a. ( ) não fumava nem bebia bebida alcoólica
b. ( ) não fumava, mas bebia
c. ( ) fumava e bebia
d. ( ) fumava mas não bebia
H. Justifique sua resposta à questão anterior.
I. Quando o chofer apresentou a última solução, o passageiro sentiu-se aliviado. Por que se sentiu aliviado se estava outra vez no mesmo lugar do início da corrida?
J. Na sua opinião, a última solução apresentada pelo motorista foi correta? Justifique.
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Gabarito:
Questão A: a.( 4 ) b.( 3 ) c.( 2 ) d.( 1 )
Questão B: serve para indicar o valor a ser pago baseado na distância percorrida e no tempo utilizado no transporte de pessoas.
Questão C: Por lei é o vendedor que tem de fornecer o troco. No caso do texto, a responsabilidade é do motorista e não do passageiro.
Questão D: alternativa B
Questão E: resposta pessoal.
Questão F: alternativa A
Questão G: alternativa B
Questão H: o texto informa que o motorista ficou decepcionado por não ter sido possível comprar a garrafa de cachaça. Provavelmente ele queria bebê-la.
Questão I: Porque se viu livre do problema do troco.
Questão J: resposta pessoal.
Muito bom e engraçado.
Muito bom!