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Ensino MédioTEXTOS PARA INTERPRETAÇÃO

TEXTO PARA INTERPRETAÇÃO 77 – LÍNGUA E GRAMÁTICA (Nível Médio/Superior)

By 26 January 20144 Comments

TEXTO PARA INTERPRETAÇÃO 77 – LÍNGUA E GRAMÁTICA     (Nível Médio e Superior)

O romântico José de Alencar preocupou-se com a língua porque sentia que ela representava o veículo fundamental de uma literatura independente: a nacionalidade apoia-se em primeiro lugar sobre a língua. O texto abaixo reflete a defesa do escritor a respeito de nossa língua e cultura.

LÍNGUA E GRAMÁTICA

(José de Alencar)

          Minhas opiniões em matéria de gramática tem-me valido a reputação de inovador, quando não a pecha de escritor incorreto e descuidado.

Entretanto, poucos darão mais, se não tanta importância à forma do que eu: pois entendo que o estilo é também uma arte plástica, por ventura muito superior a qualquer das outras destinadas à revelação do belo. Como se explica, portanto, essa contradição.

Pretendo tratar largamente desse assunto em uma pequena obra que tenho entre as mãos, e na qual me propus a fazer um estudo sobre a índole da língua portuguesa, seu desenvolvimento e futuro, considerando especialmente a tão cansada questão do estilo clássico.

Sou obrigado, porém a antecipar algumas reflexões como resposta ao artigo que em seus Novos Ensaios Críticos escreveu sobre Iracema um distinto literato português, o Sr. Pinheiro Chagas.

Vale a pena ser advertido por crítico tão ilustrado, quando a censura, como a sombra que destaca no quadro o vivo e fino colorido, não passa de um relevo imerecido a elogios dispensados com excessiva generosidade. A questão vai, portanto, estreme de qualquer assomo da vaidade, que estaria por demais satisfeita com as finezas recebidas. Eis as palavras do artigo a que me refiro:

“Não, esse não é o defeito que me parece dever notar-se na Iracema; o defeito que eu vejo em todos os livros brasileiros e contra o qual não cessarei de bradar intrepidamente é a falta de correção na linguagem portuguesa, ou antes a mania de tornar o brasileiro uma língua diferente do velho português por meio de neologismos arrojados e injustificáveis e de insubordinações gramaticais, que (tenham cautela) chegarão a ser risíveis  se quiserem tomar as proporções de uma insurreição em regra contra a tirania de Lobato”.

Continua o escritor no desenvolvimento destas ideias pela maneira por que melhor se pode ver em sua obra, escusando de reproduzir todo o texto para não alongar-me.

Na opinião do Sr. Pinheiro Chagas, a gramática é um padrão inalterável, a que o escritor se há de submeter rigorosamente. Só o povo tem a força de transformar uma língua, modificar sua índole, criar novas formas de dizer. Apoiado na opinião de Max Muller, o ilustrado crítico sustenta que a Filologia é uma ciência natural ou física, regida por leis invariáveis como a rotação dos astros.

Singular doutrina que ninguém se animou a produzir, nem mesmo a respeito das artes liberais, manifestações menos inteligentes do pensamento. A música, a pintura e a escultura, que falam exclusivamente aos sentidos por sua natureza material, sofrem, não obstante, a impulsão do espírito. Beethoven ou Rossini, Fídias ou Rafael, Praxíteles ou Miguel Ângelo, qualquer dessas individualidades, sem falar de tantas outras, teve o poder de criar uma escola, de abrir novos horizontes à sua arte, de revelar formas antes desconhecidas.

A linguagem, porém, a única das artes que fala ao espírito, é um marco imutável, sobre o qual nenhuma ação têm os escritores, esses obreiros da palavra, que a nova teoria reduz à condição dos mecânicos, mais ou menos destros no manejo de um material bruto!

Suponho eu que há grande equivocação na interpretação dada à teoria de Max Muller. O corpo de uma língua, a sua substância material, que se compõe de sons e vozes peculiares, esta só a pode modificar a soberania do povo, que nestes assuntos legisla diretamente pelo uso. Entretanto, mesmo nesta parte física é infalível a influência dos bons escritores: eles talham e pulem o grosseiro dialeto do vulgo, como o escultor cinzela o rude troço de mármore e dele extrai o fino lavor.

Mas além dessa parte fonética da língua, que forma seu corpo, há a parte lógica, o seu espírito, ou, para usar da terminologia da ciência, a gramática. Essa não é, como se pretende, mera rotina ou usança confiada à ignorância do vulgo, que somente a pode alterar. Aqui está o ponto falso da teoria invocada.

A gramática, ou a filosofia da palavra, é incontestavelmente uma ciência. Como todas as ciências, ela deve ter em cada raça e em cada povo um período rudimentário. Ainda mesmo depois de largo desenvolvimento, existirá algum ramo de conhecimentos humanos que não esteja imbuído de falsas noções, e até mesmo de erros crassos?

O mesmo sucede com a gramática: saída da infância do povo, rude e incoerente, são os escritores que a vão corrigindo e limando. Cotejem-se as regras atuais das língua modernas com as regras que predominavam no período da formação dessas língua, e se conhecerá a transformação por que passaram todas sob a ação dos poetas e escritores.

(José de Alencar. Iracema. Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1965)

Após a leitura atenta do texto, faça o que se pede.

A.Transcreva do texto lido a frase ou expressão que responde às perguntas:

  1. Qual é o resultado que o escritor recebe em virtude de suas opiniões sobre gramática?
  2. Que crítica é feita ao escritor com menos frequência?
  3. Segundo o autor o que é estilo?
  4. O que fez o sr. Pinheiro Chagas?
  5. Que defeito viu o sr. Pinheiro Chagas no romance de Alencar?
  6. Qual é a opinião do sr. Pinheiro Chagas a respeito da gramática?
  7. Segundo o sr. Pinheiro Chagas a quem cabe transformar a língua?
  8. Qual a opinião de Max Muller sobre a linguagem?
  9. Segundo Alencar, em que consiste uma língua?

B. Assinale a única alternativa correta a respeito do texto lido:

  1. Alencar aceita a crítica de ser:

a. (   ) inovador          b. (   ) incorreto       c. (   ) descuidado

  1. Segundo Alencar, ao povo compete transformar:

a. (   ) a língua           b. (   ) o estilo          c. (   ) o estilo e a língua

  1. Segundo Alencar, ao escritor compete transformar:

a. (   ) a língua           b. (   ) o estilo          c. (   ) o estilo e a língua

  1. Segundo Pinheiro Chagas, ao povo compete transformar:

a. (   ) a língua           b. (   ) o estilo           c. (   ) o estilo e a língua

  1. Segundo as palavras do crítico português, ao escritor compete transformar:

a. (   ) a língua           b. (   ) o estilo           c. (   ) nenhum deles

  1. O crítico reclama de um erro que julga próprio:

a. (   ) dos escritores brasileiros       b. (   ) de José de Alencar          c. (   ) do romance Iracema

  1. A atuação de um escritor se destaca, se considerarmos a opinião de:

a. (   ) José de Alencar        b. (   ) Pinheiro Chagas         c. (   ) qualquer um deles

  1. José de Alencar discorda de se reduzir o escritor a um:

a. (   ) obreiro da palavra          b. (   ) mecânico da palavra            c. (   ) artista plástico

  1. José de Alencar considera um engano:

a. (   ) as ideias de Max Muller

b. (   ) a interpretação de Pinheiro Chagas

c. (   ) as opiniões de ambos

  1. Eram músicos:

a. (   ) Beethoven e Rossini

b. (   ) Fídias e Rafael

c. (   ) Praxíteles e Miguel Ângelo

  1. Eram pintores:

a. (   ) Beethoven e Rossini

b. (   ) Fídias e Rafael

c. (   ) Praxíteles e Miguel Ângelo

  1. Eram escultores:

a. (   ) Beethoven e Rossini

b. (   ) Fídias e Rafael

c. (   ) Praxíteles e Miguel Ângelo

13. O acerto das três últimas questões depende apenas da leitura:

a. (   ) do texto           b. (   ) do contexto        c. (   ) do conhecimento

  1. Alencar era de opinião que brasileiros e portugueses possuíam:

a. (   ) a mesma língua          a. (   ) o mesmo estilo         c. (   ) a mesma língua e estilo

  1. Alencar considera que a gramática estuda a língua:

a. (   ) na sua substância material

b. (   ) na sua parte lógica

c. (   ) em ambas as áreas

___________________________________________________________________

Gabarito:

Questão A-1: “Tem-me valido a reputação de inovador.”

              A-2: “…é a pecha de escritor incorreto e descuidado.”

              A-3: “… é também uma arte plástica…”

              A-4: “… escreveu sobre Iracema…”

              A-5: “… é a falta de correção na linguagem portuguesa…”

              A-6: “… é um padrão inalterável…”

              A-7: “Só o povo tem a força de transformar uma língua…”

              A-8: “… a Filologia é uma ciência natural ou física, regida por leis inalteráveis…”

              A-9: “… se compõe de sons e vozes peculiares…”

Questão B.

  1. A
  2. A
  3. B
  4. C
  5. C
  6. A
  7. A
  8. B
  9. B
  10. A
  11. B
  12. C
  13. B (a série de artes e de artistas estão na mesma ordem: música e músicos; pintura e pintores; escultura e escultores)
  14. A
  15. B

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