TEXTO PARA INTERPRETAÇÃO 83 – A INVENÇÃO DO TELEFONE (Nível Fundamental)
A INVENÇÃO DO TELEFONE
Garotinho ainda, o escocês Graham Bell dizia aos pais que quando crescesse queria ser inventor. Mas vocês sabem, querer ser inventor na Escócia é algo assim como nascer com vocação para astronauta em São Luís do Maranhão. A Escócia não é exatamente um país de inventores. Os poucos que pretendiam sê-lo, no caminho de casa para a oficina acabavam sempre entrando num bar e na oitava dose da maior invenção escocesa já não lembravam mais o que queriam inventar. Graham Bell salvou-se porque não bebia. De qualquer maneira não via muito futuro na Escócia onde tudo o que se poderia inventar já tinha sido inventado: a bicicleta, o uísque, a gaita de fole e a saia escocesa.
Contrariado com essa falta de perspectiva, Bell um dia chegou em casa e anunciou que iria para os Estados Unidos, “país onde estão inventando as coisas”. Arrumou sua maleta (parecida com a dos funcionários da Telerj), passou uns tempos na Alemanha, no Canadá e, finalmente, instalou-se em Boston onde depois de se naturalizar norte-americano deu um pulinho no Registro de Inventos e Patentes e, muito seguro de si, perguntou ao funcionário: “Por obséquio, eu gostaria de saber o que está faltando ser inventado aqui”. O funcionário pediu para aguardar um pouco e consultou uma longa lista: “Bem, ainda não apareceu ninguém para inventar o telefone”.
– Então, deixa comigo – afirmou Bell cheio de confiança.
Na realidade, Bell quase teve de inventar outra coisa para ver seu nome nas enciclopédias. Antes dele outro americano, Page, já desconfiava que as ondas elétricas podiam transmitir o som; um francês, Bourseul, afirmou que as palavras podiam ser levadas tanto pelo correio como pela eletricidade e o alemão João Felipe chegou a construir um telefone e só não tirou patente porque seu dinheiro acabou e ele não pôde construir o outro aparelho: com um aparelho só, como poderia falar no telefone?
Mas o grande adversário de Graham Bell foi um eletricista de Chicago chamado Elisha Gray. No dia 12 de fevereiro de 1876 Bell entrou no Escritório de Registros de Invenções de Boston com seus telefones debaixo do braço, sem saber que naquele mesmo dia Elisha fazia a mesma coisa em Chicago. Os dois se proclamaram inventores do telefone. A polêmica tomou conta do país e foi parar no tribunal, que deu vitória a Bell. Segundo o juiz, Bell só se tornou o inventor oficial do telefone porque conseguiu linha primeiro.
A invenção repercutiu por todo o mundo. Dia seguinte já havia uma multidão na porta da casa de Graham Bell querendo conhecer aquele aparelhinho misterioso. E formou-se então a primeira fila para falar no telefone. Bell, que investiu todo o seu dinheiro na invenção, não esperava tamanho sucesso. “Se soubesse que ia ser assim”, confidenciou a uns amigos, “teria tratado de inventar antes a ficha do telefone”. As pessoas se aproximavam entre curiosas e amedrontadas, observavam aquele aparelhinho em cima da mesa e perguntavam a Bell: “Pra que serve mesmo?”
– Pra falar com outra pessoa.
– Posso tentar?
Bell deixava o cidadão à vontade. O aparelho, evidente, era daqueles modelos antigos, com o bocal na própria haste, separado da parte onde encaixa o ouvido. O cidadão pediu à sua mulher para que se afastasse, pegou o aparelho e sem experiência no manejo colocou o bocal no ouvido e o fone na boca. DE início tentou colocar dentro da boca, como se fosse uma banana, mas, percebendo que o som não saía, afastou-o e disse: “Mulher, está me ouvindo?”. A mulher, a três metros de distância, respondeu: “Estou”.
– Que que você acha desse telefone? (As pessoas ainda não estavam familiarizadas com o nome do aparelho.)
– Maravilhoso! – exclamou parada, enquanto observava o marido trêmulo segurando o aparelho.
– Incrível – berrou o marido, ao ouvir a resposta da mulher. – É fantástico. Inacreditável. Ele ouve mesmo.
Bell, que havia se ausentado da sala, voltou e perguntou ao cidadão: “Como é? Falou?”
– Falei. Claro que falei. Falei com minha mulher. Ela ouviu tudinho.
– Mas esse aparelho é para você falar com as pessoas à distância.
– Ela estava distante. Estava lá perto da porta.
– Eu me refiro a longas distâncias.
– Ah, é? Então, Mary – ordenou o marido -, vá lá para o outro lado da ponte.
– Não adianta – corrigiu Bell. – Ela tem que ter um aparelho também.
– Também? Ora, então qual é a graça? Assim qualquer um fala. Quero ver é você inventar uma conversa a longa distância sem aparelho.
( Carlos Eduardo Novaes. A língua de fora. 2a Edição, Rio de Janeiro, Editorial Nórdica, 1979)
Após a leitura atento do texto responda às questões a seguir.
- O Autor é, sobretudo, irônico. O que quis dizer com “… querer ser inventor na Escócia é algo assim como nascer com vocação para astronauta em São Luís do Maranhão.”?
- Se não havia perspectiva na Escócia, o que Graham Bell decidiu fazer?
- Por que Graham Bell “… quase teve que inventar outra coisa para ver seu nome nas enciclopédias”?
- O texto informa que duas pessoas se proclamaram inventores do telefone. Quem foram?
- As pessoas se sentiam à vontade ao experimentar o telefone?
- Para você, o que representou a invenção do telefone?
- Que aspectos da vida humana, na sua opinião, foram modificados pelo telefone? Justifique.
- Os inventos, em geral, decorrem de uma necessidade. Se você fosse um inventor, que tipo de invento você faria para ajudar as pessoas? Explique.
- Cite três invenções que revolucionaram o mundo nos últimos cem anos.
______________________________________________________________________________________
GABARITO
- Quis dizer que é uma aspiração quase impossível de ser concretizada em decorrência da situação de desenvolvimento de conhecimento existente no lugar.
- Saiu do país onde nasceu e foi para os Estados Unidos.
- Porque vários cientistas também estavam pesquisando no mesmo sentido do invento do telefone.
- Graham Bell e Elisha Gray.
- Não. Achavam o invento maravilhoso mas ficavam nervosas ao utilizá-lo.
- Resposta pessoal.
- Resposta pessoal embasada em fatos reais.
- Resposta pessoal.
- Resposta pessoal. Há um grande números de invenções que foram feitas durante o século XX em decorrência da evolução da organização das sociedades. Ex: a lâmpada elétrica, o avião, o rádio, a televisão, os adubos químicos, a fogão a gás, a geladeira, a máquina de lavar roupa, etc.
Gostei muito do site.