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Passo a Passo da Leitura Literária

DOM CASMURRO – Capítulo 29

By 22 February 2015No Comments

DOM CASMURRO – Capítulo 29

O IMPERADOR

          Em caminho, encontramos o Imperador1, que vinha da escola de Medicina. O ônibus em que íamos parou, como todos os veículos; os passageiros desceram à rua e tiraram o chapéu, até que o coche imperial passasse. Quando tornei ao meu lugar, trazia uma ideia fantástica, a ideia de ir ter com o Imperador, contar-lhe tudo e pedir-lhe a intervenção. Não confiaria esta ideia a Capitu. “Sua Majestade pedindo, mamãe cede”, pensei comigo.

         Vi então o Imperador escutando-me, refletindo e acabando por dizer que sim, que iria falar a minha mãe; eu beijava-lhe a mão, com lágrimas. E logo me achei em casa, à espera, até que ouvi os batedores e o piquete de cavalaria; é o Imperador! é o Imperador! toda gente chegava às janelas para vê-lo passar, mas não passava, o coche parava à nossa porta, o Imperador apeava-se e entrava. Grande alvoroço na vizinhança: “O Imperador entrou na casa de D. Glória! Que será? Que não será?” A nossa família saía a recebê-lo; minha mãe era a primeira que lhe beijava a mão. Então, o Imperador, todo risonho, sem entrar na sala ou entrando -, não me lembra bem, os sonhos são muita vez confusos -, pedia a minha mãe que não me fizesse padre -, e ela, lisonjeada e obediente, prometia que não.

         – A medicina -, por que lhe não manda ensinar medicina?

– Uma vez que é do agrado de Vossa Majestade…

         – Mande ensinar-lhe medicina; é uma bonita carreira, e nós temos aqui bons professores. Nunca foi à nossa Escola? É uma bela Escola. Já temos médicos de primeira ordem, que podem ombrear com os melhores de outras terras. A medicina é uma grande ciência; basta só isto de dar a saúde aos outros, conhecer moléstias, combatê-las, vencê-las… A senhora mesma há de ter visto milagres. Seu marido morreu, mas a doença era fatal, e ele não tinha cuidado em si… É uma bonita carreira, mande-o para a nossa Escola. Faça isso por mim, sim? Você quer, Bentinho?

         – Mamãe querendo…

– Quero, meu filho. Sua Majestade manda.

         Então o Imperador dava outra vez a mão a beijar, e saía, acompanhado de todos nós, a rua cheia de gente, as janelas atopetadas, um silêncio de assombro; o Imperador entrava no coche, inclinava-se e fazia um gesto de adeus, dizendo ainda: “A medicina, a nossa Escola.” E o coche partia entre invejas e agradecimentos.

       Tudo isso vi e ouvi. Não, a imaginação de Ariosto2 não é mais fértil que a das crianças e dos namorados, nem a visão do impossível precisa mais que de um recanto de ônibus. Consolei-me por instantes, digamos minutos, até destruir-se o plano e voltar-me para as caras sem sonhos dos meus companheiros.

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Notas Explicativas.

  1. Imperador – refere-se a Dom Pedro II que reinou no Brasil de 1841 a 1889.
  2. Ariosto – Ludovico Ariosto (1474-1533) é conhecido autor de Orlando Furioso. Era italiano. Orlando Furioso é um logo poema épico de base cavalheiresca, em que a imaginação entra como parte importante na obra.

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  1. Bentinho não queria ir para o Seminário. Por isso, imaginou uma maneira que pudesse auxiliá-lo a conseguir seu intento. Qual foi?
  1. Neste capítulo é narrado a visita do Imperador à casa de Bentinho. Essa visita realmente aconteceu? Explique.
  1. Por que Bentinho achou que um pedido do Imperador seria atendido por sua mãe?

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Gabarito:

  1. Ir ter com o Imperador do Brasil, Dom Pedro II, contar-lhe sua história e pedir sua intervenção junto à sua mãe.
  1. Não. Bentinho apenas deu asas à imaginação a respeito de como seria a visita do Imperador à sua casa para pedir à sua mãe que não o mandasse para o Seminário.
  1. Porque no seu entendimento os pedidos do Imperador deviam ser atendidos por seus súditos. Lembramos que essa narrativa se desenrola durante o período do 2o Império no Brasil (1841 a 1889).

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