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Minhas Memórias

Minhas Memórias – cap. 2

By 27 January 2020No Comments

2. AS ORIGENS

          Nasci em 24 de maio de 1946. Sou filha de Eurídice da Silva Marinho, que foi empregada doméstica antes de casar-se com Francisco Telles da Silva. Este foi ajudante de padeiro e trabalhou em um pequeno restaurante que vendia café da manhã e almoço, dentro do Mercado Municipal de Manaus-AM, (conhecido na época como Mercado Grande), para os trabalhadores que faziam carreto dos produtos que eram vendidos no Mercado.

          Meu pai e minha mãe já se conheciam desde criança, pois haviam morado na mesma região do interior de Manaus, conhecido como Careiro, às margens do Rio Curari Grande.

          Minha mãe ficou órfã de mãe aos três anos e de pai aos dezessete. Adolescente, resolveu procurar uma vida melhor em Manaus, pois toda a sua família vivia da lavoura de subsistência e da pesca e ela queria ter a sua própria renda. Ficando na região onde nasceu, seu futuro seria o mesmo das moças que ela tão bem conhecia: casar, ter muitos filhos, trabalhar plantando e colhendo milho, macaxeira, criando galinhas, sem ter nunca a possibilidade de conhecer outros lugares e fazer outras coisas. Minha mãe queria conhecer o mundo além do lugar que ela já conhecia. Como na época, (década de 1930), às mulheres só era permitido o trabalho doméstico, mesmo para aquelas que tinham o privilégio de estudar, minha mãe, que apenas aprendera a ler e a escrever, foi ser empregada doméstica.

          A região amazônica estava vivendo o período áureo da borracha e Manaus se transformara num polo exportador da matéria-prima, extraída dos seringais.

          Mamãe teve contato com pessoas influentes que visitavam a casa de seus patrões. Eles também eram pessoas que haviam estudado, pois na última casa onde minha mãe trabalhou antes de casar-se, o dono da casa era um farmacêutico conhecido como Dr. Machadinho e sua esposa se chamava Aurora. Dr. Machadinho era dono de uma farmácia que vendia remédios à base de plantas medicinais.

          Até onde pude perceber, minha mãe sempre procurou se envolver com pessoas que pudessem ser de boa influência para ela. Com isso percebeu que o estudo era o melhor caminho para quem quisesse ter vida melhor. Só que ela mesma não tinha condições de almejar tal estudo, pois além de ser mulher, era pobre, e apenas os filhos dos ricos eram quem frequentavam a escola.

          Se minha mãe tivesse tido a oportunidade que essa juventude tem hoje, a sua história de vida teria sido outra.

          Hoje, analisando a evolução da Educação no Brasil, vejo que a sociedade mudou muito o seu conceito sobre a mulher. Mas isso se deve às lutas e reivindicações das próprias mulheres. O governo brasileiro tem se esforçado para oferecer escola para todos. É uma pena que a juventude de hoje não perceba que isso é uma conquista que custou muito aos nossos antepassados. E que não aproveitam as oportunidades que lhes é dada para se prepararem para um futuro melhor. Vão para a escola com outras intenções, menos a de assimilarem o conhecimento que lhes é dado de graça. É por isso que sou de opinião que escola gratuita neste país deve ser dada para quem realmente quer aprender: ficou reprovado duas vezes seguida na mesma série ou não aprendeu como devia perde o direito de frequentá-la. Vá plantar batatas para sobreviver! E dê espaço para quem realmente quer aprender. O governo tem investido recursos na manutenção das escolas neste país e não tem tido retorno desse investimento porque os alunos não estão muito interessados em estudar.

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