7. OUTROS PERIGOS NA INFÂNCIA
Também houveram outros perigos mais sutis, tão perigosos quanto o ataque de cobras ou jacarés, entretanto, suas consequências são inomináveis e profundas.
A Bíblia informa que nada é novo debaixo do sol (Eclesiastes 1:9), isto é, tudo o que vemos de bom ou mal nos dias de hoje, já existia desde que o homem foi criado. E uma das abominações que mais choca as pessoas é o abuso sexual às crianças. Eu, aos cinco anos, quase sofri esse tipo de ataque. Aconteceu assim, até onde me vêm as lembranças:
Na casa da Rua Itamaracá, moravam conosco dois sobrinhos de minha mãe: Marcília (filha de minha tia Irinéia) e Darcy (filho de tio Júlio). Darcy já era adolescente, devia ter uns 15 a 16 anos. Provavelmente tinham vindo morar em nossa casa, em Manaus, em busca de melhores perspectivas de vida.
Um dia, meu primo Darcy, me chamou para ir com ele ao fundo da área da casa. Não me lembro quem estava em casa, mas provavelmente mamãe e papai não se encontravam lá, pois só lembro da figura da minha prima Marcília. Darcy pediu que eu me abaixasse no chão para ver as formigas que faziam caminho no pátio. Fiz o que ele pediu. Como eu estava vestida só de calcinha, ele foi retirando-a, ao mesmo tempo em que tentava introduzir seu pênis entre minhas pernas. Aquilo me pareceu estranho e ao mesmo tempo ameaçador. Já tinha visto os cachorros fazerem esse tipo de coisa na rua. Mas, com gente, não. Não me lembro de ter sentido dor, mas gritei e gritei alto. Ele se afastou rapidamente e se recompôs. Logo em seguida apareceu minha prima Marcília e a explicação dada por ele é que eu tinha sido picada por formigas.
Depois disso, não vi mais Darcy morando em nossa casa. Minha mãe morreu e eu nunca conversei com ela sobre essas lembranças, porque sempre achei que ela nunca soube disso. E também porque não queria que ela tivesse o desgosto de saber que seu sobrinho tinha tentado estuprar-me.
Esse episódio ficou carimbado em minha mente como um aviso para jamais confiar em homens que se aproximassem demasiadamente de mim.
