9. MAIS LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA
Minhas lembranças do período em que moramos na casa da Rua Itamaracá são poucas, mas as tenho vivas na memória.
Meu pai trabalhava muito num pequeno prédio localizado na Praça Tenreiro Aranha, bem no centro da cidade de Manaus. Era conhecido como Pavilhão. A área era de propriedade da Prefeitura Municipal e meu pai havia arrendado o local, onde montou um pequeno restaurante popular. Vendia café da manhã, almoço, merenda da tarde para os trabalhadores braçais e motoristas de caminhão que estacionavam seus veículos em volta da enorme praça. Essa praça tinha a forma de um triângulo e tinha muitas árvores conhecidas como benjamins. Ao lado desta praça erguia-se, imponente, o Hotel Amazonas, que chamava a atenção pela sua altura. Lembro-me que as pessoas sempre se referiam a este hotel com orgulho e admiração, pois neste local somente as autoridades e os ricos é que tinham o privilégio de se hospedar nele.
Mas, veja-se o contraste: ao lado dessa maravilha da engenharia da época (década de 1940) erguia-se outro prédio pequeno, simples, mas não de menor importância para as pessoas que o frequentavam: era o Pavilhão onde meu pai atendia aos fregueses mais pobres, que não iam para casa almoçar e que, por saírem muito cedo de casa para trabalhar, tomavam seu café da manhã nesse local.
Um, imponente, grande, luxuoso, atendia a uma clientela rica, culta; outro, pequeno e simples, atendia a uma clientela pobre, inculta. Mas os dois conviviam lado a lado, sem maiores dificuldades ou aborrecimentos.
Hoje esse pequeno prédio já não mais existe. Ficou apenas a praça onde foram alojados ambulantes que vendem peças de artesanato e outras bugingangas.