11. O TRABALHO DURO DE MEUS PAIS PARA SUSTENTO DA FAMÍLIA
Além do trabalho da casa, mamãe extraía as caldas das frutas que iam ser usadas na confecção de sorvetes, picolés e sucos. Tudo era feito pessoalmente por minha mãe, com a ajuda de algumas pessoas que trabalhavam no bar com meu pai. Ouvi muitas vezes meu pai dizer que os fregueses vinham de longe para comprar sorvete, picolé e sucos, porque tudo era feito de polpa da fruta, exclusivamente, e com boa qualidade e asseio, pois era minha mãe quem fazia ou supervisionava o trabalho.
Apesar de meu pai ter aprendido apenas a ler, escrever e contar, pois estudara apenas até a 2a. série primária, (e o que aprendeu, na época, equivale hoje a que todo menino devia saber ao terminar o 5o. ano!), ele tinha uma visão de comércio muito além do que se via. Ele conseguia detectar oportunidades de negócios onde aparentemente a situação não se apresentava favorável.
Foi por causa desse faro comercial que ele, ao comprar a casa no Alto de Nazaré, em frente ao Cine Popular, empregou todo o seu capital na construção do bar. Até onde eu me lembro, não havia nenhum comércio desse tipo naquelas imediações.
Naquela época (década de 1950), o fornecimento de energia elétrica, em Manaus, era muito precário, e quem quisesse ter energia com mais constância tinha que ter um motor de luz em casa. Claro que só os grandes empresários é que tinham condições de manter esse equipamento. Meu pai resolveu esse problema com o dono do cinema, fazendo uma parceria. Como o cinema funcionava apenas nos finais de semana e poucas vezes à noite, durante a semana, eles fizeram o seguinte acordo: meu pai ajudaria na compra do óleo diesel para o funcionamento do motor e em troca o cinema forneceria luz para o bar. Com a clientela do cinema, as vendas no bar subiram muito, principalmente nos finais de semana. Mas também a clientela do cinema aumentou porque agora as sessões não aconteciam só nos finais da semana, mas todas as noites, com a melhoria da programação e porque também o ingresso era mais barato que nos outros cinemas do centro da cidade. O Cine Popular não tinha o conforto dos outros cinemas e por isso é que o ingresso era sempre mais barato. Os filmes que eram apresentados nos cinemas do centro eram rodados sempre depois de alguns dias nesse cinema. A clientela estava a fim mesmo era de ver os filmes que tanto passavam lá como aqui, em data diferenciadas. Como no Cine Popular a entrada era mais barata, quem não tinha dinheiro ou não se importava com a falta de conforto, vinha ver filmes no Cine Popular.
Foi neste cinema que assisti a muitos filmes, principalmente os de “bang-bang”. Vi muitos filmes estrelados por John Waine, Fred Astaire, Ester Willians, Frank Sinatra, Mazzaropi, Grande Otelo, Anselmo Duarte, Virgínia Lane, Rock Hudson. Tornei-me uma cinemeira. Até porque, na época, o cinema tornara-se a principal fonte de entretenimento popular.
Invariavelmente, meu lazer acontecia aos domingos à tarde em que a programação era para crianças e eu não pagava entrada por ser filha do dono do bar que tinha parceria com o dono do cinema.