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Minhas Memórias

Minhas Memórias – cap. 18

By 31 January 2020No Comments

18. MINHA DECISÃO

          Para quem não acredita na existência de Deus, eu só tenho a lamentar e orar ao Senhor que tenha misericórdia dele.

          Quanto a mim, sou grata e dou louvores a Deus porque, sendo eu ainda criança, Ele tenha me escolhido para ser feita sua filha através de Jesus Cristo, pois assim está escrito: “Nós o amamos porque Ele nos amou primeiro.” (I João 4:19).

          Isso que acabei de afirmar é realidade e pude comprová-lo através das situações que vivi ao longo de minha vida até hoje. E como me convenci de que há um Ser que comanda o Universo. Certamente que, o que está escrito no versículo acima é a mais pura verdade. Hoje eu tenho a firme convicção de que o Senhor decidiu colocar em meu caminho oportunidades para me aproximar dele.

          Eu, desde muito cedo, principalmente a partir do período em que estudei no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora (Manaus-AM), por volta dos meus sete a nove anos, tinha uma religiosidade muito forte. Como estudava em um colégio católico, foi-me ensinado muitas doutrinas católicas. Decorei muitas orações: pai-nosso, ave-maria, salve-rainha, o credo católico e muitas outras. Um, que nunca esqueci foram os Dez Mandamentos. Ei-los, como me foram ensinados e assim os decorei:

  1. Amar a Deus sobre todas as coisas
  2. Não tomar o seu santo nome em vão
  3. Guardar domingos e festas
  4. Honrar pai e mãe
  5. Não matar
  6. Não pecar contra a castidade
  7. Não furtar
  8. Não levantar falso testemunho
  9. Não cobiçar a mulher do próximo
  10. Não cobiçar as coisas alheias

          No Colégio Nossa Senhora Auxiliadora havia uma igreja ou capela como era chamada na época. Nessa igreja haviam várias imagens de santos: no altar principal havia a imagem de Nossa Senhora Auxiliadora. Nas laterais haviam outros altares com imagens de outros santos. Lembro-me que eu regularmente entrava na igreja e me ajoelhava diante dessas imagens, rezava um pai-nosso ou uma ave-maria e em geral fazia um pedido ao santo. Também foi durante esse período que fiz a primeira comunhão católica e periodicamente ia ao confessionário me confessar com o padre. E cumpria direitinho a penitência dita por ele. Desse modo, eu achava que estava me preparando para ir ao céu quando morresse.

          Como disse linhas atrás, eu firmei em minha mente que um dia ainda iria adquirir uma Bíblia para ler, eu mesma, todas as histórias a respeito de Deus. Mas, o tempo passou. A Bíblia era um livro pouco difundido no mundo católico da época e a possibilidade de eu ter acesso a esse livro era quase impossível. Não era um livro vendido em livrarias comuns.

          Mas, agora, eu tinha a oportunidade de ler sobre Deus e sua mensagem para os homens.

          A leitura de como Deus tratava com o povo de Israel ia abrindo em minha mente a convicção que Deus dava oportunidades e as pessoas só precisavam aceitar e obedecer às suas ordens.

          Mas, a grande descoberta que fiz, foi ao ler o Capítulo 20 do Livro de Êxodos. Lá está escrito o seguinte, a partir do versículo 2 até o 6:

“2. Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da  servidão. 

3. Não terás outros deuses diante de mim.

4. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.

5. Não as adorarás, nem lhes darás culto, porque eu sou o Senhor teu Deus, Deus zeloso que visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem,

6. e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.”

          Ao ler esse trecho, na Bíblia, se apoderou de mim uma indignação muito grande contra a Igreja Católica, contra os padres que me ensinaram coisas erradas. Eu cresci ouvindo que Deus era o Senhor a quem todos deviam obedecer. E caso não obedecêssemos, seríamos punidos, assim como nossos pais terrenos fazem com seus filhos desobedientes. Por isso, a minha revolta. Pensei: “Como é que esses padres tem coragem de suprimir uma ordem de Deus, tão séria? Incentivar a adoração de imagens de escultura?”

          A partir desse dia, decidi abandonar qualquer coisa que me ligasse à Igreja Católica e a seus cultos. E disse para mim mesma que somente a Bíblia seria meu manual de fé e prática. Por isso, passei a lê-la. Mas, para uma neófita na fé e sem ninguém que me ensinasse, eu só tinha o Espírito Santo para me aclarar a mente. Entretanto, eu não sabia disso. Mas Deus conhecia o meu coração e a minha sede de conhecê-lo.

          Dos livros do Velho Testamento, li somente os chamados livros históricos, isto é, aqueles que contam a respeito dos principais líderes dos israelitas: Noé, Abraão, Isaque, Jacó, José, Davi, Moisés, Josué, Samuel, Saul, Daniel, Ester, Salomão e outros.

          Mas do Novo Testamento li todos os quatro evangelhos, pois foi nesses livros que passei a compreender sobre o porquê que Jesus morreu na cruz.

          Mas a providência divina não acabou aí.

          No final de 1963, papai decidiu vir morar em Boa Vista, capital do ex-Território Federal de Roraima, por conta de que eu precisava continuar os estudos e em Caracaraí não havia escola de nível ginasial (atual Ensino Fundamental de 6o ao 9o ano).

          Papai teve que procurar casa para alugar. Mas não podia ser uma casa de aluguel muito caro, pois a situação financeira da família não permitia.

          Em Boa Vista, fomos morar em um “apertamento”. Dou esse nome porque realmente para uma família de quatro pessoas, o lugar era bem pequeno. Compunha-se de três áreas: a sala, um quarto e a cozinha, todos muito pequenos. Mas como não tínhamos móveis algum, dava para morarmos, pois dormíamos em rede e papai passava a maior parte da semana fora de casa, pois passara a negociar no interior.

          Mas, aí é que entra a providência divina.

          Este apartamento fazia parte de uma casa maior, localizada na Rua Bento Brasil esquina com a Rua José Magalhães. Ainda hoje essa casa continua de pé e o apartamento também. A dona da casa, Dona Adalgisa Pereira, era evangélica e frequentava a Igreja Batista Regular de Boa Vista. Ela tinha uma filha mais ou menos da minha idade, chamada Araceles. Fiz amizade com ela e passei a frequentar a igreja, que ficava muito próximo da casa.

          O Senhor providenciou as condições para que eu tivesse relacionamento com pessoas que haveriam de me auxiliar no estudo da Bíblia. E, assim, passei a frequentar os cultos e, principalmente, a Escola Dominical. 

          No início do ano de 1964, fui matriculada no Ginásio “Euclides da Cunha” para dar continuidade aos estudos. Na época, só existiam duas escolas que ofereciam o curso ginasial: o Ginásio Euclides da Cunha, particular, administrada pela Igreja Católica; e a Escola Monteiro Lobato, que era pública. Os padres que administravam o GEC, como é conhecido até hoje, cobravam uma mensalidade simbólica. Não lembro o valor, mas hoje, analiso que, para a situação financeira de papai, ele deve ter feito um esforço muito grande para honrar seu pagamento, uma vez que ele era o único provedor da família. Meu irmão foi estudar na escola pública Oswaldo Cruz.

          No GEC, estudavam principalmente os filhos dos altos funcionários públicos e dos comerciantes da cidade. Era a elite. Mas também tinha alunos que não pertenciam a essa “elite”, como eu. Mas, nunca me senti ou fui discriminada dentro dessa escola. Nem mesmo pelo diretor Pe. Genésio, mesmo sabendo que eu era frequentadora de uma igreja evangélica. Havia muitos alunos que eram filhos de membros da igreja e que estudavam no GEC, como Lois e Douglas, filhos do Sr. Salomão Lima; Loilde, filha de D. Maria Coelho; e as filhas de um pastor recém chegado na cidade e que viera assumir o pastorado da Igreja Batista de Roraima, do movimento da Convenção Batista Brasileira. 

          Na Igreja Batista, passei a ter contacto com os rapazes e as moças, que também a frequentavam: Dalva e Flora Honorato, Raquel Monteiro, Lídia Coelho, Rubem e Barac Bento, Sebastiana (conhecida como Pretinha), Dalvina Noronha, os filhos e sobrinhos de Dona Ester Seabra e outros que não lembro seus nomes.

          Lá, conheci vários missionários norte-americanos: Dona Sílvia e Sr. Eldon Larsen, Sr. Neil Hawkings e sua esposa, Sr. Haroldo Burns e esposa, todos ligados a um órgão de missão evangélica norte-americana ao qual pertenceu o fundador da igreja, missionário Garnet Trimble.

          Lembro perfeitamente da noite em que, após palestra sobre o Pai-Nosso, proferida pelo sr. Neil Hawkings, levantei-me e fui lá para a frente do púlpito dizer à Igreja que aceitava o Senhor como meu Salvador, em cumprimento ao que ensina a Palavra de Deus: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.” (Romanos 10:9).

          Na realidade, eu já tinha e tenho a real convicção de que Jesus veio para cumprir uma missão e eu já havia concluído que sem Ele, eu não teria a vida eterna, perdida no Paraíso. No meu coração eu já o havia aceitado como meu Senhor. Entretanto, eu precisava dizer isso ao mundo, às pessoas em volta de mim. “Porque com o coração se crê para a justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação.” (Romanos 10:10).

          A decisão que eu havia tomado anos antes, quando passei a ler a Bíblia e tê-la como regra de fé e prática, eu estava agora confirmando diante das pessoas que me conheciam. E, assim, foi que me tornei membro da Igreja Batista Regular de Boa Vista. Tinha então 18 anos.

          A minha frequência à Igreja levou minha mãe e meu irmão também a frequentá-la e algum tempo depois minha mãe também fez sua decisão. Meu pai não a frequentava e não lembro se ele fez alguma decisão pública como é ensinado na Bíblia.

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