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Minhas Memórias

Minhas Memórias – cap. 23

By 2 February 2020No Comments

23. É NAMORO OU AMIZADE?

          Foi durante o acampamento de Carnaval (FEV/1967) que aconteceu o início do namoro com meu futuro marido, o Roberto.

          Eu o havia conhecido durante uma visita feita anos antes, a ele, na casa de sua avó, Dona Zuíla. Ele era jogador de futebol do Baré Esporte Clube e havia se machucado seriamente em um jogo. Estava com uma das pernas engessada e o grupo de jovens da Igreja foi visitá-lo. Depois que se recuperou, passou a frequentar a Igreja e as reuniões da Mocidade.

          A princípio, não dei muita “bola” para ele. Eu o achava feio, muito magrinho. Visualmente não tinha nada que chamasse a atenção das moças. Ele sempre procurava se aproximar de mim, mas eu não dava muito espaço para conversas.

          Havia outro rapaz que tinha demonstrado interesse em namorar comigo. Chamava-se João Carlos Calland de Paiva. Era evangélico da Igreja Presbiteriana. Eu conhecia todos de sua família: a mãe Dona Margarida, o pai sr. Francisco Paiva e duas irmãs: Berenice e Francimar. Todos eram evangélicos da Igreja Presbiteriana. 

          João Carlos trabalhava no serviço de comunicação do Governo, transmitindo mensagens pelo telégrafo. Ele era telegrafista. Tinha terminado o curso Ginasial e estava se preparando para deixar a cidade de Boa Vista e continuar seus estudos na cidade do Rio de Janeiro. Pretendia fazer medicina. Um dia fui abordada por ele com um pedido de namoro. Fiquei surpresa e, no fundo, envaidecida. Mas, como sempre eu pautava minhas decisões racionalmente, respondi que precisava pensar antes de tomar qualquer decisão. E pedi um tempo para responder. Enquanto essa resposta não era dada, conversávamos esporadicamente. Eu frequentava muito a sua casa e sempre fui muito bem recebida por sua família. Acho que sua mãe e suas irmãs torciam para que o namoro fosse firmado. Afinal, ele viajou e eu não assumi o compromisso. Entretanto, ele continuou a escrever-me. Em uma de suas primeiras cartas ele cobrou-me a resposta de sim ou não a respeito do assumir o compromisso de namoro com ele. 

          Naquela época, quando um rapaz e uma moça assumiam um namoro diante de suas famílias, isso queria dizer meio caminho andado para um futuro casamento. Mas eu tinha dúvidas se isso iria dar certo. As razões eram: ele estava indo estudar numa cidade muito grande e com muitos atrativos; ele não tinha data para retornar à Boa Vista. Íamos namorar através de cartas? Não tínhamos iniciado o relacionamento de namoro e ainda não tínhamos aquele vínculo que une os namorados. Nem nos conhecíamos direito! E, se ele, lá no Rio de Janeiro, conhecesse outra moça e se apaixonasse por ela? Teria que me comunicar isso, para que eu não ficasse aqui, esperando por ele, feito uma boba. 

          Afinal, respondi que não queria ter um compromisso de namoro nessas condições. Minha mãe leu a carta de João Carlos pedindo a resposta ao seu pedido de namoro. E aconselhou-me a aceitar. Mas eu respondi que não havia aceito pelas razões acima expostas.

          Roberto, entretanto, continuava tentando uma aproximação. A sua estratégia foi muito sutil. Ele nunca foi direto ou insistente. Como era muito amigo de Rubinho (Rubem Bento) e de Barac (os três jogavam bola juntos no mesmo time)  eu o aceitei como amigo porque eu tinha muita consideração por esses dois irmãos. Além disso, no meio esportivo da cidade, Roberto era considerado o melhor jogador de futebol. O Baré Esporte Clube foi campeão várias vezes em virtudes de jogadas decisivas feitas por Roberto durante os jogos.

          Com o passar do tempo, fui descobrindo outras qualidades dele. Sempre teve um temperamento calmo, fala mansa. Nunca tive conhecimento de seu envolvimento com bebida alcoólica ou fumo, o que para mim era de muita importância. Também nunca soube de seu envolvimento com outras moças.

          Daí, comecei a prestar mais atenção nele. E foi durante o acampamento no período do Carnaval em FEV/1967 que começamos a namorar. Não houve um pedido formal por parte dele. Foi acontecendo. Olhares, apertos de mão mais prolongados… Ele foi me conquistando aos poucos, e fomos assumindo o envolvimento diante de todos: da igreja e da família.

          Ele havia começado a trabalhar como funcionário do Banco do Brasil, numa época em que o Banco admitia apenas homens em seu quadro de funcionários. Seu cargo era de estafeta, isto é, um funcionário que era responsável pela entrega de documentos nas empresas da cidade.

          Na década de 1960, a entrega de documentos pelo Correio era muito precária, em Boa Vista. Às vezes, os próprios interessados tinham que ir procurar na agência do Correio suas correspondências, uma vez que o serviço não era feito com assiduidade. E como o Banco não podia esperar pelo Correio, ele mesmo dispunha de um funcionário para fazer esse serviço. E Roberto foi indicado à Direção Geral do Banco do Brasil para exercer essa tarefa. Não foi necessário fazer concurso para assumir esse cargo. Depois de algum tempo, ele foi efetivado como funcionário permanente do Banco. Ele só tinha estudado até a 5a série primária. Portanto, não tinha muito conhecimento que pudesse levá-lo a aspirar a um emprego melhor. Por isso, o emprego no Banco do Brasil foi um presente de Deus para ele. E acho que Rubinho e Barac que também eram funcionários do Banco, tiveram uma grande participação nisso. Filho de família pobre, ele foi criado por Dona Zuíla, sua avó materna e pelo seu marido, sr. Nelson Albuquerque, que o adotou informalmente como filho, uma vez que seu pai havia abandonado sua mãe biológica e seus irmãos, ainda muito pequenos. 

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