27. A RECONCILIAÇÃO
Os primeiros meses de 1968 transcorriam sem maiores incidentes. Eu estava feliz, mas a falta de comunicação com minha família me incomodava. Pastor Jaime sempre insistia para que eu fosse procurar minha mãe para restabelecer o que havia sido quebrado, dizendo que eu deveria pedir-lhe perdão. Mas eu achava que a culpa não era minha e retardava essa decisão.
O Dia das Mães estava se aproximando e então resolvi seguir os conselhos do Pastor Jaime. Comprei um presente e fui até a casa de mamãe pedir-lhe perdão pela desobediência, no dia das Mães do ano de 1968. Daí em diante, voltamos às boas relações entre mãe e filha. Demos por encerrada a querela e não tocamos mais no assunto.
Depois de algum tempo, papai vendeu a casa onde morava em Boa Vista, e levou minha mãe com ele para morar no interior, numa região conhecida como Cachoeirinha, às margens do Rio Branco. Meu irmão continuava morando na casa do patrão.
Eu, por conta do período conturbado que antecedeu o casamento, não dei continuidade ao curso de Magistério que havia iniciado em 1967.
A cidade de Boa Vista não era tão grande e a maioria das pessoas se conheciam.
Um dia, no final do ano de 1968, encontrei-me com o Prof. Severino Cavalcante e ele perguntou-me o que estava fazendo. Eu respondi-lhe que havia casado e não estava trabalhando em lugar nenhum. Também não estava estudando. Ele perguntou-me se eu estava interessada em trabalhar como professora de História na Escola Monteiro Lobato, onde era diretor. Ele precisava encontrar alguém que o substituísse nas turmas nas quais ele dava aula, porque não tinha mais condições de tempo para acumular as duas atividades. Eu, de pronto, aceitei a oferta. E assim, em 1969, retornei às salas de aula como professora de História. Entretanto, não voltei aos estudos naquele ano. O curso Magistério funcionava durante o dia e por causa do trabalho, que me tomava os dois horários, eu não podia frequentá-lo. Ou trabalhava ou estudava. Optei por trabalhar porque o salário do Roberto, no Banco do Brasil, era pouco para as despesas que estavam aparecendo. E também eu pensava no meu futuro como mãe. Sempre vinha à minha memória o que eu havia presenciado quando morava na casa de Nenê, em Manaus. E as histórias de vida de Dona Zuíla e de sua filha Lourdes (mãe biológica de Roberto), sobre o que elas tiveram de enfrentar por falta de um trabalho permanente que lhes desse o ganho necessário para viver.