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TEXTOS PARA INTERPRETAÇÃO

Texto para interpretação 103 – Numeromania (nível Médio)

By 11 June 2020No Comments

TEXTO PARA INTERPRETAÇÃO 103 – Numeromania (Nível Médio)

NUMEROMANIA

          – Candidato 3.246! Sala 304!

          E lá vou eu: um número que se dirige a outro número.

          – Ninguém aqui quer saber se estou satisfeito ou não; se estou doente, se tenho vontade de cantar… Sou o 3.246: um número!

          – Idade?

          – 23.

          – Peso?

          – 62.

          – Altura?

          – 1m e 60.

          Gozado! Quando criança, não me lembro de ter sido um número. A não ser quando ia ao médico e ao dentista. Aí, a enfermeira chamava: – 35! Minha mãe se levantava e eu, sem saber que era o 35, ia atrás dela e entrava no consultório.

          O negócio começou mesmo quando fui pra escola. Não sei bem como era no começo. Mas, ao entrar no ginásio, passei a ser o 17 da turma 103. (E me explicaram direitinho: o algarismo da centena indicava que eu pertencia a uma turma de 1o ano ginasial). Depois fui o 21 da 204; o 13 da 306. Fui reprovado: o 13 me deu azar! No ano seguinte fui o 22 da 311; depois, o 8 da 402; o 12 da 1.104 e assim por diante.

          Me lembro de todos esses números. E não dá pra esquecer. Minha mãe, “coruja” como todas as mães, guardava lembranças da minha infância e… lá estão todas as cadernetas, que de vez em quando ela retira da gaveta de lembranças!

          E como eu fazia confusão no início do ano letivo! Colocava número e turma do ano anterior! Ou fazia “salada”: número daquele ano e turma do ano anterior. Nossa!

          Cresci. Fui para o serviço militar.

          – Soldado 189!

          – Pronto!

          E aquele tempo todo fui o 189 da 3a Cia. Recebi o Certificado Militar: 2.385.782, 1a Categoria, 1a RM.

          Agora eu era maior. Tirei o título de eleitor: no 312.743, 16a Zona Eleitoral, 386a Secção. E carteira de identidade: 11.845.382 do DIG (Departamento de Identificação Geral). E carteira profissional: 2.585.322, Série 105a.

          Fui trabalhar. Recebi número de inscrição no INPS e, mais tarde, o número do PIS. Tornei-me contribuinte do Imposto de Renda: CPF 30.452.896.345.287 (já me disseram que o algarismo 7 das unidades diz que estou cadastrado na 7a Região Fiscal, mas não sei se isso é verdade). E tenho conta no Banco 819: conta no 357.439/5.

          Aprendo a dirigir; comprei um carro. Carteira no 1.283.749. Chapa do carro, no do chassis, no do motor. Tudo isso eu tenho anotado.

          Essa montoeira de números é o que, na sala 304, perguntam ao candidato 3.246, que deseja simplesmente inscrever-se para a compra de um apartamentozinho.

          Só não me perguntaram ainda, por motivos óbvios, o número do atestado de óbito, da quadra e da sepultura. Mas… alguma dia alguém terá que completar os dados.

          Dizem que o governo vai estudar um meio de dar um número ao cidadão, assim que ele nascer e for registrado. Esse número seria dele a vida toda, até morrer. Seria bom! O que carrego de documentos no bolso não é normal!

(Roberto Augusto Soares Leite, Comunicação e Interpretação, Editora Nacional, São Paulo, 1977)

Assinale a única alternativa correta de acordo com o texto:

A – Aponte a alternativa que traduz a ideia central do texto:

      1. (   ) Ensinar a usar corretamente os números dos documentos.

      2. (   ) Provar a necessidade de se atribuir números a cada cidadão.

      3. (   ) Enaltecer a eficiência de órgão públicos e privados que, pelo emprego de números, obtêm logo as informações necessárias.

      4. (   ) Mostrar que cada vez mais vamos sendo um número na sociedade.

      5. (   ) Induzir os leitores a não usarem os números com que cada um é registrado.

B – Com a observação “um número que se dirige a outro número”, torna-se patente a:

       1. (   ) valorização do indivíduo

       2. (   ) necessidade de identificação

       3. (   ) superorganização do mundo moderno

       4. (   ) oposição homem/coisa

       5. (   ) perda da personalidade humana

C – Ao dizer que toda aquela numerologia era apenas para “… inscrever-se para a compra de um apartamentozinho”, o narrador está fazendo crítica:

       1. (   ) ao funcionário

       2. (   ) à burocracia

       3. (   ) à desorganização

       4. (   ) ao zelo

       5. (   ) à objetividade

D – A referência irônica ao atestado de óbito, da quadra e da sepultura nos pode levar a concluir que:

      1. (   ) até o número dos atestados de óbito são atribuídos previamente a cada pessoa.

      2. (   ) o  número da quadra e da sepultura facilitam as homenagens póstumas.

      3. (   ) nem de pois da morte nos livramos dos números.

      4. (   ) a morte iguala todos os seres humanos.

      5. (   ) o homem não se conforma com a ideia da morte.

Gabarito:

A. 4       B. 5     C. 2      D. 3  

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