38. A TEMPESTADE CONTINUA…
Para completar a situação difícil que eu enfrentava, outras foram se apresentando: cobrança de empréstimos feitos por Roberto em outros bancos particulares e dos quais eu não tinha conhecimento. As cobranças chegavam via correio com ameaça de cobrança judicial. Como eu era casada com comunhão universal de bens (e de dívidas!) pela lei da época, era também responsável pelas dívidas que o marido fizesse, mesmo que eu não tivesse assinado nenhum documento. E para não ter meu nome sujo no comércio, tive que arcar com o pagamento dessas dívidas que não fiz.
Mas a situação mais difícil que enfrentei foi descobrir que estava para perder a casa que morávamos e que eu fizera muito sacrifício para construí-la.
Fiquei sabendo (não lembro quem me informou) que a gerência do Banco do Brasil havia formalizado uma cobrança judicial a respeito da situação que havia culminado com a demissão de Roberto. Nunca soube exatamente o que foi que aconteceu para ele ser demitido, mas tudo indicava que envolvia dinheiro e agora o Banco estava cobrando o pagamento.
Fiquei sem chão. Não sabia exatamente a quantia, mas pelo que fui informada era bastante alta. Como a gerência já havia encaminhado o processo para a justiça, e se não houvesse pagamento em espécie, o Banco poderia lançar mão dos bens móveis ou imóveis para cobrir a quantia cobrada. Foi isso que me informou uma amiga que trabalhava na área da justiça em Boa Vista. Como a casa que morávamos estava no nome do Roberto no cartório de imóveis, não seria difícil isso acontecer, pois nessa época ainda não existia a lei que impede que seja utilizado a casa de morada da família como forma de pagamento de dívidas.
Eu estava no olho do furacão. Não sabia o que fazer. Eu olhava para todos os cantos e não via luz no fundo do túnel. Humanamente falando, eu não tinha a quem recorrer. Eu chorava, angustiada, pensando em como seria a minha vida e a dos meus filhos, se tivéssemos de deixar a casa. Meu salário não comportava pagar aluguel de casa e pagar as outras dívidas que apareceram, além do sustento da casa. Até um agiota apareceu em casa, cobrando dinheiro que ele havia emprestado para Roberto. Eu respondi que não era de mim que ele devia cobrar, pois eu não fizera nenhum empréstimo desse tipo com esse homem.
Nessa época, meu salário era bem pequeno, pois não estava exercendo nenhuma função gratificada em virtude de ter me afastado do trabalho por causa do nascimento da Greice (licença-gestante). Meu salário do cargo efetivo do Governo Federal era de nível médio, embora eu já tivesse concluído um curso de nível superior (licenciatura curta em Letras), por conta de uma interpretação equivocada da lei que havia nos amparado como funcionários públicos federais. Mal dava para cobrir as despesas de casa: luz, água, telefone, comida, transporte. Tive que assumir todas essas despesas, pois Roberto não contribuía praticamente com nada. A única coisa que ele ainda fazia era colocar gasolina no carro, porque ele o usava para ir ao trabalho, na CODESAIMA. Mas era só.