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Minhas Memórias

Minhas Memórias – cap. 31

By 17 February 2020No Comments

31. O DESAFIO DE ESTUDAR, TRABALHAR E CUIDAR DA FAMÍLIA

          Eu havia interrompido a frequência ao Curso de Magistério por causa do casamento, em 1968. Em 1969, comecei a trabalhar como professora nos dois horários (manhã e tarde) e por causa disso não dei continuidade ao curso, pois o mesmo só funcionava durante o dia. Além disso, fiquei grávida e a Izabel nasceu em Mai/1970. Só retornei a estudar em 1971, quando o curso passou a funcionar à noite.

          Em 1971, mamãe já estava morando conosco na casa alugada da Vila Cocal e era ela quem cuidava de Izabel enquanto eu ia trabalhar e estudar.

          Em 1972, fomos morar no Bairro de Aparecida e como eu continuava trabalhando na Escola Monteiro Lobato, eu descia com Roberto, cedo da manhã, na garupa da motocicleta com a Izabel no colo, e só voltava à noite para dormir. A Izabel ficava o dia todo na casa de Dona Zuíla, onde continuamos a fazer as refeições, pois eu não tinha condições de tempo para prepará-las. E foi assim durante os anos de 1972 e 1973.

          O Governo Militar em Roraima sempre demonstrou preocupação quanto à questão da qualificação e preparo dos professores que atuavam em sala de aula. Desde que comecei a trabalhar como professora-horista, era convidada (convocada para ser mais precisa) para participar de cursos e treinamentos que sempre aconteciam durante as férias escolares no final do ano. Os professores que não tinham vínculo permanente com o Governo (cerca de 90%), se quisessem receber algum salário durante o período das férias teriam que participar dos cursos. Caso contrário não receberiam nada. Em outras palavras: o Governo pagava para estudarmos ou se utilizava de uma chantagem para obrigar os professores a participar dos treinamentos. Essas eras as opiniões dos que apoiavam o Governo Militar ou o criticavam.

          No meio dos professores, achávamos que precisávamos de descanso, mas os cursos e treinamentos sempre eram executados por pessoas com boa qualificação profissional e muito conhecimento, que vinham de outros Estados. Valia a pena participar deles. Além disso, não ficávamos sem receber salário e por conta desse investimento continuávamos fazendo parte da equipe de professores. Afinal de contas, eu precisava do emprego e o Governo precisava de professores bem treinados.

         Mas, os planos do Governo Militar para Roraima não parou por aí. No final do ano de 1972, o Governo Militar proporcionou, aos professores que quisessem fazer um curso superior, a oportunidade de fazer um vestibular que seria aplicado em Boa Vista, pela Universidade Federal de Santa Maria/RS. Quem fosse aprovado, teria a oportunidade de fazer um curso superior de Licenciatura de Primeiro Grau (conhecida como Licenciatura Curta) que seria executado em Boa Vista por essa Universidade. Os cursos oferecidos eram de Português, História e Geografia. 

          Eu havia concluído o Ensino Médio no final desse ano (1972) e não titubeei: fiz o vestibular. Se passasse iria fazer a Licenciatura em Letras com habilitação em Língua Portuguesa. Haviam 40 vagas para cada curso e só não entrava quem zerasse em qualquer uma das provas, que foram Português/Inglês e Conhecimentos Gerais. Assim, todos os professores que atuavam na Escola Monteiro Lobato e que não eram habilitados foram aprovados e formamos a 1a turma do Curso Superior de Licenciatura Curta em Português, História e Geografia da UFSM/RS, em Roraima. As aulas começaram em Dez/1972 e estenderam-se até Fev do ano seguinte. E assim foi durante os anos que se seguiram. Eram três meses de aulas intensivas (oito horas diárias: 04 de manhã e 04 à noite). Os professores que vinham dar as aulas, todos faziam parte do quadro efetivo da Universidade. Quando a Universidade entrava em férias, lá em Santa Maria, as aulas começavam em Boa Vista. Como todos os alunos eram professores do Governo do Território Federal de Roraima, as aulas só podiam acontecer durante o período de férias. Paralelo  a isso, o Governo Militar resolveu assinar a Carteira de Trabalho de todos quantos prestavam serviço nos setores do Governo dos Territórios e que não tinham um contrato formal com ele.

Isso foi feito em AGO/1973 e perdurou até o final da transformação do Território em Estado.

          Em ABR/1975 fiquei grávida da minha segunda filha, Ellen, que nasceu em JAN/1976. Por causa disso tive que me afastar do curso, que só o concluí em JUL/1976.

          O grupo de alunos que faziam esses cursos tinha uma preocupação. Por causa do sistema de execução do curso que acontecia no período das férias escolares, começaram a surgir comentários sobre a qualidade daquilo que estava sendo dado para nós. Diziam que o que era ministrado durante um ano letivo não poderia ser aplicado em apenas três meses de aula e com qualidade. Isso começou a nos preocupar e em comissão, da qual fiz parte, fomos até ao coordenador do Curso informá-lo sobre isso. Dissemos a ele que de modo algum queríamos ser privilegiados no sentido de que em função do tempo, fosse relaxado o que deveríamos aprender. O Coordenador, porém, nos informou que nossa preocupação não tinha fundamento, uma vez que nada do que nos era ministrado diferia do que era dado aos alunos, em Santa Maria/RS. E ainda havia um diferencial que os professores encontraram no nosso grupo: por sermos todos, professores que atuávamos no curso Ginasial da rede de ensino, apresentávamos mais bagagem de conhecimento do que os alunos dos mesmos cursos, lá em Santa Maria/RS. De sorte que os conteúdos das aulas em Boa Vista, tinham um nível muito mais alto por causa do nível de conhecimento anterior que apresentávamos. E esse era o depoimento do grupo de professores da UFSM/RR, sobre nós. Também o próprio coordenador nos informou que os professores que vinham ministrar as aulas todos tinham mestrado e alguns eram doutores em suas áreas de ensino. E havia entre eles uma disputa para ver quem viria à Roraima ministrar as disciplinas. Em consequência, a experiência da Universidade estava apresentando excelentes resultados. Todos os professores da Universidade, dessas áreas dos cursos, queriam vir para conhecer esse pedaço distante do Brasil e de quebra ter um grupo de alunos que estavam interessados em obter mais conhecimento para continuar como professores.

          Essas informações nos deixou aliviados e envaidecidos.

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