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Minhas Memórias

Minhas Memórias – cap. 34

By 20 February 2020No Comments

34. COM A PULGA ATRÁS DA ORELHA!

          A minha vida profissional estava melhorando, principalmente quando terminei o Curso Magistério. Em AGO/1973 o Governo Militar assinou a carteira de Trabalho de todos quantos estavam trabalhando para o Governo sem um contrato formal, principalmente os professores. E esse contrato perdurou até a transformação do Território em Estado. Foram 15 anos.

          Mas a minha vida familiar não ia muito bem. Tenho que recuar no tempo e recordar situações que foram muito difíceis para mim, mas que hoje concluo que foram necessárias para o meu crescimento espiritual e o fortalecimento da minha fé em Deus.

          Os três primeiros anos de casamento foram uma felicidade só. Até então, nada ou ninguém conseguia suscitar na minha mente qualquer desconfiança a respeito da fidelidade de meu marido para comigo.

          No início do ano 1974 deixei a Escola Monteiro Lobato e passei a integrar a equipe que implantaria o Sistema Supletivo na área educacional de Roraima. Meu novo local de trabalho ficava localizado no prédio onde hoje funciona o Conselho Estadual de Educação, na Av. Santos Dumont. À época, era conhecido como Centro de Estudos Supletivos do bairro de São Francisco (CES-São Francisco) e posteriormente como Centro Supletivo “Maria da Glória”, nome dado em homenagem à professora Maria da Glória Leal Santos que fez parte da equipe e morreu prematuramente.

          Essa troca de local de trabalho favoreceu meu deslocamento, porque era próximo do local onde morávamos, no Bairro de Aparecida. Eu podia ir a pé para o trabalho. Não era mais preciso o Roberto me levar com ele para o centro da cidade. Ele continuava trabalhando no Banco do Brasil das 7 às 13 horas. Eu entrava no trabalho às 8 horas e saía às 14 horas. Mas quando chegava o período das aulas na Faculdade nós mal nos víamos, pois eu ficava praticamente dedicada aos estudos: manhã, tarde e noite até às 23 horas. Eram três meses de estudos intensivos, em que eu não conseguia conversar com ele, a não ser o trivial. Ele nunca reclamava nada sobre isso e eu, como estava muito envolvida nos estudos e depois no trabalho, não percebi que estávamos nos afastando. 

          Na equipe da qual eu fazia parte, havia uma professora conhecida como Nevinha (Maria das Neves Saraiva) esposa de um farmacêutico e que morava numa avenida bem próxima ao CES. Um dia ela me perguntou quem era a moça que ela sempre via com o Roberto, ensinando-a a andar de motocicleta. Isso ocorria na avenida onde ficava a casa dessa professora e ela achava estranho porque a maneira como ele a tratava dir-se-ia que não eram apenas amigos. Demonstrava mais que isso. Eu, particularmente, não sabia quem era e Roberto não havia me comunicado que estava ensinando alguém a andar de motocicleta. Entretanto, eu respondi à Nevinha que era alguém conhecida da família a quem ele tentava ajudar. Quanto à segunda parte da sua informação, não acrescentei nenhum comentário, mas fiquei de sobreaviso. Procurei saber quem era a tal fulana e Roberto me deu a sua versão para o fato, o que explicou mas, internamente, não me convenceu. Sabe o que é ficar com a pulga atrás da orelha? Foi como passei a me conduzir em relação ao Roberto. Eu não brigava, não fazia alusão às frequentes informações que alguns conhecidos me davam sobre ver o Roberto frequentemente acompanhado de alguma(s) moça(s) quando eu não estava presente. Como ele era um jogador de futebol muito querido pela torcida do Baré, eu tentava me convencer que eram apenas torcedoras que o admiravam e que isso devia ser normal na vida de um ídolo.

          Entretanto, eu não me dava conta de que ele também estava se deixando envolver por esse clima de afetividade e levando a situação para aspectos mais sérios, a ponto de se envolver, ou melhor, namorá-las. Não era um namoro explícito, mas quem os via não tinha dúvidas de que havia sério envolvimento entre eles. E essas informações começaram a chegar aos meus ouvidos.

          Quando passei a confrontá-lo, ele dizia que eu estava me deixando envolver por mexericos e que ele não podia tratar mal as pessoas que estavam perto dele ou que o procuravam e entre elas, as mulheres. Em suma, ele me acusava de ser ciumenta e de não confiar nele.

          Eu não tinha muitos subsídios nos quais eu pudesse me apoiar. Ele nunca me tratou mal, nunca me dirigiu uma palavra dura ou mesmo tentou me bater. Sua maneira de dirigir-se a mim sempre foi com muita calma e com educação. Nunca levantou a voz com grosseria ao falar comigo. Em outras palavras, nunca demonstrou estar insatisfeito com o nosso relacionamento.

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